A produção ainda é artesanal, tocada pessoalmente por um jovem empreendedor carioca. Apaixonado e entusiasmado com cada criação, Arthur Waldmann, enfatiza que, justamente por desenvolver pessoalmente cada produto da marca, a aparência e o sabor dos snacks podem variar um pouco, “às vezes, a manga pode estar um pouquinho mais doce, por exemplo”, brinca ele.
De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a proporção de obesos mais do que dobrou no país entre 2003 e 2019.
A obesidade feminina subiu de 14,5% para 30,2% enquanto que a obesidade masculina subiu de 9,6% para 22,8%. E isso pode estar diretamente ligado à falta de hábitos saudáveis. Um levantamento desenvolvido pela RG Nutri em parceria com a Techfit, 78% dos brasileiros afirmam estar mais preocupados com a qualidade da alimentação e estão mudando seus hábitos.
Estudos feitos pela Kantar Ibope, apontaram que o consumo de snacks saudáveis teve um crescimento de 50% desde o início da pandemia na França, Espanha, Brasil e Reino Unido. Arthur procurou o jornal Onews para contar sua história.
Atualmente em busca de um sócio investidor para ampliar a produção e entregar inovação ao processo, é ele, em primeira pessoa quem narra a jornada até aqui e o futuro promissor da Utropia.
” Comecei a trabalhar com a desidratação em 2015. Sempre gostei de comer bem e frutas desidratadas são algo que consumo há vários anos, curioso, procurando sempre um sabor diferente.
O abacaxi em rodelas conheci há muito tempo, ele que chegou ao Brasil bem depois de já estar disponível em outros países, assim como a manga desidratada, o que é um verdadeiro paradoxo pois o Brasil é um celeiro de produção de frutas nativas que mal conhecemos.
Iniciei desidratando frutas em rodelas e em pedaços, como as que você encontra em qualquer mercado ou na zona cerealista. Frequentava o Ceasa de São Paulo e comprava todo tipo de fruta.
Melância, melão, lichia. Frutas com 92% de água passaram pelo processo de desidratação comigo.
Sempre fui muito curioso para saber o que sairia dali e nessa vibe de testar tudo fiquei com a cabeça voltada a procurar um nome para a marca que estava nascendo. Nada melhor do que uma utopia tropical, a Utropia.
Comecei então a fazer os rolinhos de frutas. Acontecia de ir dormir e na cama esperando o sono chegar, vinha uma ideia de receita nova, não podia ir para a cozinha desidratar trinta quilos de bananas por exemplo, então escrevia tudo no computador e voltava para cama.
No dia seguinte estava na cozinha preparando logo aquela nova receita. foi assim que tive a ideia de fazer as barrinhas.
Se você olhar as barrinhas tradicionais vendidas no mercado hoje em dia, todas elas usam como ingrediente o aglutinador que mantém todos os outros ingredientes juntos.
Usam tâmara, um ingrediente que normalmente vem de fora e tem uma pegada grande de carbono, ou mel com o qual não conseguimos proporcionar experiência ao público vegano, ou melado que é um ingrediente interessante mas altera muito o sabor do produto, ou ainda uns xaropes horrorosos com muito açúcar que estão bem distantes do clean label.
Encontrei uma forma de utilizar a banana como ingrediente aglutinador, que é uma matéria prima que temos em alta disponibilidade em qualquer estado do Brasil
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As barrinhas são todas com banana por causa desse elemento aglutinador, mas os rolinhos são diversos sem a banana, como o de manga com pimenta. Minha produção ainda é pequena, nos últimos meses entreguei foco ao plano de negócios.
Vendemos em dois restaurantes aqui no Rio e ao cliente final e nossa maior venda está sendo conquistada pelo e-commerce. Venda recorrente é a regra. O que mais sai é a barrinha de banana com coco, casca de limão e chia.
Os Orgânicos
Minha profissão de origem é o marketing digital, estava num evento no estádio do Palmeiras e no intervalo procurei um restaurante vegano aos arredores.
No restaurante conversei com uma garçonete que se tornou uma grande amiga, a Cata formamos um grupo de amigos incluindo a Mariana Marcon, na época diretora de projetos da AAO em São Paulo e foram eles que sugeriram que eu desidratasse orgânicos.
Na época os preços de orgânicos eram mais altos. Comecei a estudar, naquele momento, sobre o uso desenfreado de agrotóxico no Brasil e concluí que não gostaria que meus clientes adoecessem por consumirem um produto que eu fabriquei.
Meu contato com os orgânicos veio dali. Em minha infância não me lembro de consumi-los em casa. Por sete anos não comprei nada que não fosse orgânico para a minha produção.
É muito mais difícil encontrar produtos orgânicos no Rio de Janeiro do que em São Paulo, por exemplo, mas prefiro comprar daqui do que mandar vir de fora. É desafiador.
A desidratação
A desidratação ao sol é um processo que existe há milênios. O desidratador mais comum hoje em dia é a ar quente.
Basicamente a parte de trás tem um ventilador e uma resistência elétrica acoplada, que gera calor. Esse ventilador joga o vento quente de forma contínua em cima dos alimentos que estão nas bandejas dentro do desidratador.
A porta deste equipamento não fecha hermeticamente, há umas pequenas frestas ou furos na parte de cima para que o ar e a umidade possam sair e um ar novo, mais seco, possa entrar. O clima faz muita diferença para o processo.
No macro, vejo a desidratação como uma forma de evitar perdas no cultivo agrícola, por exemplo, uma banana madura vai apodrecer dependendo do calor que fizer, em três dias e se você desidrata a banana naquele momento que ficou madura ela terá um prazo de validade, dependendo da embalagem, de seis meses a dois anos. Você não estende o prazo de validade, você multiplica. Quanto maior a temperatura a qual você expõe o alimento em seu preparo, mais nutrientes você perde. Deixa de haver atividade enzimática.
Quanto menor a temperatura que você expõe, melhor. O cenário ideal para desidratar o alimento, diz quem trabalha com alimentação viva, seria a 42 graus. Existem algumas escolas dentro da alimentação viva e há quem chegue a 49 graus. Vou dar um exemplo de quando morava em São Paulo e fazia uvas passas.
Para desidratar a uva a 60 graus demoramos uns três dias. Se baixamos para 49 ficamos com uma uva desidratando durante quase uma semana. É muito complicado você produzir desidratados vivos.
Um produto que acaba precificado de acordo com esse baixo rendimento da produção. Trabalho com 57 graus, preservo uma boa porcentagem de nutrientes.
Para medirmos quanto preservamos de cada micronutriente precisamos levar o produto para o laboratório.
Procuro para a marca um sócio investidor a fim de ter esse tipo de suporte técnico que é muito caro para o pequeno produtor. Precisamos também nos certificar.
Além de tudo isso, do ponto de vista estratégico, a desidratação é um processo extremamente inteligente. Com ela preservamos alimentos altamente perecíveis por meses ou até anos em temperatura ambiente, ela permite ainda evitar a perda de safras por problemas de logística ou pela dificuldade que produtores têm de escoar toda a sua produção quando ela atinge seu pico. Agora, por exemplo, estou trabalhando em parceria com um produtor aqui do Rio para ajudá-lo a escoar suas mangas, que estão no auge da safra.
Estendendo o prazo de validade dos insumos por meio da desidratação, é possível planejar safras em parcerias com os produtores.
Outra etapa importante é a de embalagens sustentáveis, difíceis de encontrar. Depois de muito procurar encontrei uma empresa de Araras em São Paulo que fabrica embalagens em celofane vegetal. A produção do início ao fim, incluindo desenvolvimento de produto e embalagens, por enquanto quem toca sou, costumo dizer que todas as etapas passam pela minha “EUquipe”. É bem difícil, nem imagino o quanto de frutas descasquei nestes últimos sete anos.
O Brasil tem muito insumo que não é aproveitado e a desidratação cai como uma luva para o nosso mercado. Minha visão a longo prazo é desidratar as frutas de todos os biomas do Brasil com uma fábrica em cada bioma, comercializando tanto internamente como para exportação.”