Ligue os Pontos, política pública da cidade de São Paulo premiada e compartilhada – o Brasil agrícola que queremos
por Kátia Bagnarelli para Jornal Onews, exclusivo
Lia Palm
é servidora pública na prefeitura de São Paulo há cinco anos. Sua carreira, analista de políticas públicas e gestão governamental, é árdua e requer extrema dedicação. Lia não está sozinha, ao lado dela atuam outros grandes profissionais que dedicam talento e tempo ao projeto desde o início. Todos eles têm uma característica de circular pelas políticas.
Lia já trabalhou com política de educação, administração penitenciária, planejamento, gestão e melhoria de serviços públicos. Migrando de secretaria para secretaria, chegou num momento onde quis trabalhar com melhoria de políticas a fim de conseguir entregar maiores resultados à algo pelo qual sempre foi apaixonada na vida pessoal.
Lia define sua paixão considerando a importância dos aspectos mais básicos e esquecidos em nossa sociedade: a agricultura das cidades e a questão da alimentação em São Paulo.
Nós nos encontramos com ela online, numa tarde fria de sexta-feira. Alegre, enérgica, empoderada e realmente apaixonada, ela narra de forma contagiante a sua trajetória no projeto Ligue os Pontos.
Um legado público inspirador e que tem engajado para o trabalho em conjunto secretarias diversas da cidade, o governo de seu estado e outras federações em parcerias colaborativas inéditas.
“Quando consegui chegar ao projeto ele já estava em andamento. O Ligue os Pontos nasceu quando a prefeitura fez o plano diretor com a necessidade de preservação ambiental de uma parte do Cinturão Verde e dos reservatórios de água que estão dentro do território.
No plano diretor foram restabelecidas as zonas rurais da cidade. São Paulo é 30% rural, e esse Cinturão Verde cheio de floresta e de produção de água é essencial ambientalmente, entretanto é um território muito complexo. As pessoas acabam sendo expulsas para estas áreas, temos nelas ocupações irregulares em áreas ambientalmente sensíveis.
A fiscalização precisa acontecer, mas não é suficiente. Assim a inovação do projeto desde quando foi proposto que é trabalharmos com essa visão de vocação e práticas desses territórios. Quais são as práticas econômicas compatíveis com o meio ambiente?
As respostas vem da agricultura de boas práticas com foco na agricultura orgânica, na transição agroecológica, no ecoturismo, nas pessoas conhecerem mais para valorizarem esses territórios.
Despertar a população para perceber que há uma agricultura na cidade com o objetivo de que essas terras não acabem abandonadas pela desvalorização do agricultor, que tem na própria atividade uma rotina muito dura por falta de condições apropriadas e alta vulnerabilidade.
Quando da saída do agricultor, essas terras acabam sendo ocupadas por loteamentos clandestinos ou condomínios. Este foi o “problema” do projeto, e ele é interessante pela capacidade de enfrentar algo complexo de forma complexa também, olhando para as várias questões que estão acontecendo.
O “Ligue os Pontos” vem tanto de uma conexão dos agricultores com o maior mercado do Brasil – estamos muito perto do mercado consumidor e ao mesmo tempo muito longe na prática em relação ao acesso – como também dessa necessidade de uma visão territorial de tentar trabalhar em conjunto, de fazer com quem já faz, de articular as políticas públicas internas na prefeitura com atores externos da sociedade civil.
Com essa ideia, em 2016 o projeto concorreu a uma premiação da Bloomberg Philanthropies que se chama “Mayors Challenge”. São Paulo concorreu com muitas cidades, ficou entre as cinco finalistas e recebeu o prêmio em primeiro lugar.
Na zona sul da cidade está a maior parte da área rural e é o foco do Ligue os Pontos, onde trabalhamos muito, embora tenhamos ações para a cidade inteira. Temos zonas rurais também na zona norte e na zona leste e uma agricultura muito diversificada no restante da cidade.
A característica da zona rural sul é muito mais rural de fato, o que se chama de periurbana. Poucos sabem que há muita agricultura urbana e periurbana na cidade com trabalhos muito ricos.
É interessante entender a estrutura do projeto. Existem várias políticas há um tempo na prefeitura, em especial, temos o PROAURP – Programa de Agricultura Urbana e Periurbana, instituído por lei em 2004, que tem entre seus objetivos incentivar e apoiar a produção agroecológica e a comercialização na cidade de São Paulo, temos Casas de Agricultura instaladas, temos Assistência Técnica no território, mas é uma política que precisa ser fortalecida.
Ela sempre está numa luta de fortalecimento. Entretanto, o projeto Ligue os Pontos encontrou, por exemplo, uma situação na zona sul onde uma Casa de Agricultura estava literalmente caindo estruturalmente, interditada, com poucos técnicos, sem instrumentos para trabalhar.
Um lugar onde a política existe mas precisa ser fortalecida. Onde precisamos desenvolver a visão de que os nossos agricultores da cidade tem uma característica muito peculiar.
No Cinturão Verde temos agricultores orgânicos maiores e mais estruturados, aqui na zona sul a agricultura é muito frágil, é um território de muita vulnerabilidade social. Havia muito pouco conhecimento sobre esse território e o que estava acontecendo ali.
Precisávamos conhecer mais este território, então fizemos um levantamento de censo que resultou na informação de que muitos agricultores ganhavam menos de mil reais por mês com a agricultura. Durante os questionários uns pediam trator, outros enxada.
Um grupo bem heterogêneo, com suas necessidades de muito apoio, objetivo do projeto. A oportunidade de ter tido um recurso internacional com alguma autonomia após o prêmio, possibilitou um plano de ação com aporte para o território, o que resultou num ganho muito grande de desenvolvimento de tecnologia e em como, de fato, conseguimos atuar ou desenvolver métodos e estrutura.
Também fizemos cartografia, censo dos agricultores da zona sul, fizemos ainda um levantamento lindo da agricultura Guarani que tem uma grande parte da zona sul como aldeias.
Percebemos com o censo que as nossas perguntas não funcionam para eles, porque há uma outra lógica de produção.
Fizemos um levantamento florístico da terra indígena em parceria com o Herbário Municipal e um esforço muito grande em reunir todas essas informações que foram muito úteis no desenvolvimento do projeto para que pudéssemos tomar decisões e entender um pouco mais, confirmando algumas hipóteses em relação ao público que estávamos lidando e suas necessidades.
Deixamos um legado para as políticas públicas e para outros projetos que venham a atuar nesses territórios, de muita informação com dados abertos disponibilizados no GeoSampa e na plataforma Sampa + Rural.
Fizemos gestão do conhecimento, saíram a pouco dez publicações do projeto que falam sobre grupo de consumo responsável, relatórios, plataformas num foco de replicação e de que esse experimento possa ser expandido e continuado na cidade, mas também de que possa beneficiar outras cidades e outros estados.
Na parte de fortalecimento da agricultura, eixo principal do projeto, com foco na porteira para dentro, contratamos sete técnicos de campo extensionistas que atendiam com regularidade 150 agricultores orgânicos e convencionais para instaurar as boas práticas. Trabalhamos com um check list, que são várias perguntas desde a gestão da propriedade até a parte de produção e organização de venda.
Adaptamos o processo do protocolo de transição agroecológica para o nosso contexto e para abraçar os convencionais também. Trabalhamos periodicamente essas perguntas para compreendermos a evolução desses agricultores nas boas práticas.
Para quem não queria fazer a conversão para agricultura orgânica certificada ou para transição agroecológica, trabalhamos nas boas práticas ambientais, nas melhorias tanto em termos de produção quanto impacto. Tínhamos uma meta para que eles aumentassem a nota de boas práticas, da conversão para orgânico e transição agroecológica. Saímos de 34 para 70 pessoas em transição e certificações.
Criamos quatro CSA com o apoio do projeto.
O foco era ajudar esses agricultores a fazer a conversão, o nosso primeiro CSA foi com a equipe da prefeitura, Marcelo e Fabiana, que iniciaram convertendo 10% de sua área para fazer a transição agroecológica. Logo decidiram fazer com todo o território, certificando-se com transição e passando a ser IBD certificados orgânicos por inteiro.
Essa transição é difícil, fazer a conversão sem saber se vai ou não vender exige um mecanismo de incentivo. A Assistência Técnica neste eixo de fortalecimento da agricultura foi o pilar principal do projeto, o acompanhamento muito próximo a esses agricultores com vários instrumentos como técnicos com carro, computador, material de trabalho e insumos orgânicos. Fomos de fato para a prática.
A ideia é que os agricultores visitem uns aos outros e troquem experiências. Quando chegou a pandemia tivemos que interromper a assistência presencial, tentamos seguir com remoto na sequência, mas percebemos que não funcionava muito bem.
Fizemos então, depois de muitos meses, protocolos de visitas com distanciamento e apenas duas visitas por dia, pensando que este é um serviço essencial.
Para fortalecer a Casa de Agricultura Ecológica da zona sul, apoiamos uma reforma, compramos mobiliário, equipamentos, fizemos galpão para guardar esses equipamentos e os insumos.
Tivemos uma atuação na cadeia de valor que foi a ligação e fortalecimento dessas conexões para além do agricultor, colaborando com outros elos dessa cadeia.
As parcerias
Trabalhamos durante o projeto articulando as secretarias. Acredito que essa é uma inovação na forma de trabalho. Muitos começam um projeto novo desconsiderando tudo o que já aconteceu.
O Ligue os Pontos nasceu com a ideia de trabalhar em conjunto.
Somos sediados na Secretaria de Urbanismo e Licenciamento e trabalhamos em parceria com as secretarias de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, das Subprefeituras, do Verde e do Meio Ambiente, de Relações Internacionais, da Educação, da Saúde e de Governo.
Parte dessas secretarias compõe o Comitê de Governança do projeto. Foi bem importante reunir os secretários num comitê que envolvia o gabinete do prefeito.
As decisões máximas poderiam ser tomadas e destravadas nesse comitê. É muito difícil fazer política pública articulada e o projeto foi bem sucedido nisso também.
Uma lição bem legal de que é possível fazer junto, e de que uma política precisa viver com a outra, não conseguimos sozinhos dar conta de todos os problemas.
O primeiro coworking rural
O Teia Parelheiros é um coworking público municipal, como vários que já existem pela cidade. Nós apoiamos este que foi o
primeiro coworking rural de São Paulo, fica num parque em Parelheiros e possibilita o acesso a internet e ao computador que muitos agricultores não têm.
O Teia é o lugar de acesso ao conhecimento, com apoio ao empreendedorismo e fomento de negócios.
No mesmo parque apoiamos a escola de agroecologia municipal.
Trabalhamos ao lado da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, compramos com recursos do projeto móveis e equipamentos e participamos dos grupos de trabalho, fizemos várias vitrines de técnicas para que as pessoas pudessem utilizar este conhecimento.
Vitrines de saneamento de águas cinzas com bananeira, coleta de água, criação de abelha nativa, banco de sementes, entre várias outras práticas interessantes. A escola é um legado muito importante para a cidade.
Nos alimentamos de alimentos que vêm de fora de São Paulo, quando nós temos muitos aqui dentro.
Tivemos um curso de cogumelos da Mata Atlântica que foi incrível, essa é a nossa biodiversidade, o que está ao nosso redor.
Quanto aos CSA, foram 4 com o foco na transição, apoiando agricultores a experimentarem esse processo. Dois deles são CSA populares, proporcionamos acesso.
Pegamos o alimento orgânico e levamos para duas comunidades de maior vulnerabilidade, para isso fizemos um arranjo onde o preço fica acessível, incluindo a parceria com organizações que subsidiaram o valor de parte das cestas em alguns períodos. Tem sido bem interessante promover o acesso porque se trata de uma reeducação alimentar, uma possibilidade de que isso não fique somente para as zonas ricas, queremos que o acesso seja para todos.
Fizemos a aceleração com Ade Sampa, uma capacitação empreendedora para mais de 200 pessoas em várias fases e depois disso fizemos um edital de seleção de oito negócios locais para acelerar.
Para esses oito pequenos negócios acelerados, foi entregue um prêmio de R$35 mil com um acompanhamento por seis meses.
Tivemos vários negócios contemplados entre agricultores, um de cicloturismo e uma plataforma digital. Percebemos que a aproximação entre os atores da cadeia realmente gera oportunidades, demandas, grupos e projetos, saindo todos com mais capacidade de atuar nesse ecossistema.
A multiplicação do acesso ao projeto
Existe nesse processo uma visão, tanto da financiadora quanto da prefeitura, de que esses conhecimentos e práticas podem chegar a mais pessoas.
Nesse sentido, fomos identificando oportunidades e necessidades comuns e caminhando junto com outros lugares que querem levar as ideias ou a troca de conhecimento a partir das ferramentas. Isso é bem interessante para um ganho mútuo.
Quando alguém está usando a nossa plataforma SisRural apenas em São Paulo, ele tem uma força. Quando ele está sendo usado aqui e no Paraná Mais Orgânico, que é o maior programa de certificação orgânica do país, ele ganha outra força, até para o que estamos fazendo aqui em São Paulo.
A nossa ideia é criar uma comunidade de troca de conhecimento, o sistema é importante mas ele também fomenta outros tipos de ganhos mútuos que são muito bons.
Aplicação usa código aberto e está disponível para replicação por outros entes interessados – Sisrural, o sistema que visa apoiar políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável e de preservação ambiental
Dentro do projeto percebemos que não tínhamos ferramentas para assistência técnica rural no município. Um técnico tinha uma ficha em papel, o outro nem anotava, nada era estruturado. Surgiu então a necessidade de criarmos uma ferramenta.
Quando entrei no projeto em 2019 isso era uma ideia e a partir dali recebi a missão de concretizá-la. Montamos uma pequena equipe de três pessoas internas. Em minha trajetória de políticas públicas, não é sempre que temos um recurso desse.
Poderíamos fazer um sistema pequeno que atendesse apenas a necessidade pontual, mas isso não daria nem sustentabilidade para esse sistema e nem aproveitaria a potencialidade de se ter um financiamento. Conversamos muito com os técnicos de campo, os gestores das políticas públicas e já estávamos trabalhando com o governo do estado através do protocolo de transição que tem uma equipe muito engajada. Muito cedo percebemos que eles também não tinham um sistema.
Embora no governo do estado a Secretaria da Agricultura e Abastecimento seja tradicional e muito forte com centenas de sistemas, para a assistência técnica e para a transição agroecológica eles estavam usando o excel. Muito mais estruturados do que nós porque eles já usavam dados, tinham uma sistemática de informação, mas não tinham um sistema adequado também.
O SisRural nasceu com a visão de que poderíamos usar juntos o sistema, fizemos todo o processo em conjunto com os técnicos do estado de São Paulo e muito próximos da nossa experiência com nossos técnicos que perceberam em campo que ferramentas de fato ajudariam, que tipo de dificuldade estavam enfrentando com os instrumentos que estávamos usando naquele momento no projeto.
Criou-se então uma plataforma que procura ser muito simples de usar, mas que ao mesmo tempo, entrega muitas ferramentas de campo que podem ser utilizadas por muitas políticas simultaneamente.
Temos um cadastro único de agricultores dentro do sistema, todos ajudam a mantê-lo atualizado, mas também tem autonomia para criar seus próprios instrumentos, fluxos de aprovação das políticas que precisam, check list, o protocolo de transição agroecológica com check list com pontuação, é possível montar qualquer tipo de formulário para coleta de dados ou indicadores.
A plataforma tem um resultado bem interessante tanto para o registro de histórico de atendimento, um perfil de cada produtor com todos os atendimentos que aconteceram ali, qual é o atual uso de solo, a sua trajetória, que recomendações foram dadas, fotos da propriedade, assim como todos os instrumentos que foram entregues à ele.
A gestão de dados georreferenciados em mapas facilita tanto para os gestores de políticas públicas que conseguem entender melhor seu território, quanto para viabilizar o trabalho dos extensionistas.
Fizemos o sistema pensando em quatro políticas públicas, duas municipais (a ATER municipal, pagamentos por serviços ambientais municipal que ainda não está rodando mas está com tudo para começar) e duas estaduais, protocolo de transição agroecológico e Protocolo de Boas Práticas Agroambientais do governo do estado.
Em novembro de 2020 assinamos um termo de colaboração e neste semestre de 2021 iniciamos a implantação e o sistema está sendo utilizado em todo o estado pelos técnicos de assistência estaduais e passou a ser ferramenta oficial do protocolo de transição agroecológica.
É desafiador porque é uma mudança de cultura.
O SisRural tem também um aplicativo porque muitas regiões das zonas rurais não têm internet e precisávamos da utilização em campo com todas as ferramentas sem acesso a internet.
O SisRural tem o módulo de relatórios web que traz parte dos relatórios, mais todas as ferramentas com banco de dados comum. Temos um arranjo bem interessante de um comitê gestor onde as decisões sobre o sistema são tomadas de forma paritária entre o estado e o município.
Nós desenvolvemos e o estado está fazendo a hospedagem, manutenção e suporte. O sistema é todo em código aberto e está disponível para qualquer um que queira pegar, baixar, instalar e utilizar.
Ligue os Pontos e Paraná Mais Orgânico,
juntos por um Brasil mais saudável
Nessa parceria com o protocolo de transição a equipe nos colocou em contato com o Paraná pois estão discutindo sobre a adoção do protocolo agroecológico lá. Entramos em contato com o Programa Paraná Mais Orgânico, que tinha a mesma questão que enfrentamos: a de não ter um sistema.
Estamos em pleno processo através de um termo de cooperação assinado no começo do ano. Foram feitas muitas trocas, eles estão instalando o SisRural lá, farão as adaptações convenientes, terão um sistema separado para adotar como sistema do Programa Paraná Mais Orgânico.
Além do sistema, fizemos um acordo para intensificar o apoio do governo para a agricultura do município, aumentando as nossas trocas, aumentando a incidência do estado para fortalecimento da agricultura aqui em São Paulo e no Paraná.
Prevemos inserir energia para conseguir essas trocas de conhecimento, pois eles tem muita vivência, muita técnica, muita experiência para nos ensinar, fortalecendo enquanto assistência técnica e enquanto processos, o nosso município.
Essa necessidade que tínhamos em São Paulo não era só nossa, uma situação de vários outros territórios do Brasil e estamos super abertos para fazer essas conexões e dividir esse conhecimento tanto para novos desenvolvimentos quanto para uso do sistema em si. “
NOTA DA REDAÇÃO
O Paraná Mais Orgânico é um programa de orientação a agricultores familiares interessados em produzir alimentos de maneira orgânica. O programa visa também à certificação do produtor de alimento orgânico no estado do Paraná.
O programa é uma parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e as instituições estaduais de ensino superior.
Os objetivos do PMO são ofertar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural que estimulem a adoção de inovações tecnológicas baseadas na agricultura orgânica, apoiar a organização dos agricultores familiares nos processos de comercialização da produção orgânica e contribuir para a consolidação do estado como o de maior número de produtores orgânicos do país.
Quem pode participar são os agricultores familiares do estado do Paraná. O agricultor interessado deve entrar em contato com algum dos núcleos do programa.
Um técnico fará as ações de assistência técnica e extensão para adequar a propriedade. Depois do período de adaptação, é realizada uma auditoria. Se estiver em acordo com a legislação, o produtor recebe o certificado.
Para encontrar um núcleo acesse:
https://www.agricultura.pr.gov.br/Pagina/Parana-Mais-Organico
Sampa é + Rural,
“Sabemos muito pouco de onde vem a nossa comida, quem produz e como produz”
Lia Palm continua nos explicando como foi consolidar a plataforma Sampa + Rural e o quanto ela significa para a cidade hoje.
“Como paulistanos conhecemos muito pouco o rural na cidade. Falamos em agricultura familiar e queremos saber quem são eles, onde estão, o que produzem, como eles vivem, do que precisam, o que eles podem nos ensinar.
O nosso foco para este projeto era inovação e há muitos tipos de inovação, mas a tecnologia sempre quer entrar. Foi um desafio grande para nós e se íamos fazer uma plataforma precisávamos descobrir o que era importante estar nela.
Esse rural de São Paulo é muito especial e inesperado para muita gente, é surpreendente.
Sampa + Rural tem a ideia de entregar visibilidade para os agricultores, para as zonas rurais
São Paulo está cercada de iniciativas rurais, elas estão em toda a parte e descobrir isso é surpreendente.
e trazer a importância dessas áreas para a cidade. Não é só a periferia da cidade, ela é central para a cidade, é necessária. Não somos o urbano e o rural, somos um só. Essas áreas não são um problema, são solução. Há muita ruralidade em São Paulo.
A plataforma é participativa, tínhamos muitas informações da zona sul mas queríamos contemplar a cidade toda.
Para isso, fizemos parcerias com outras secretarias e iniciativas da sociedade civil para reunir e atualizar dados que foram sendo incorporados na plataforma.
Por exemplo, a Sampa+Rural é integrada com o “Mapa de Feiras Orgânicas” do IDEC, um mapeamento maravilhoso que abrange o país inteiro.
Foi um Ligue os Pontos entre todos, trabalhamos juntos em várias iniciativas de coleta de novas informações.
Traz dados anonimizados de cerca de 750 agricultores existentes na cidade. Aqueles agricultores que optam por estar visíveis, passam a ter um perfil com informações disponíveis para conexões. Temos aldeias guaranis que produzem na zona norte e sul. Temos as hortas urbanas, muitas com atividades comunitárias e de lazer, com educação ambiental e alimentar. Também as hortas em equipamentos públicos.
Com o tempo as parcerias foram aumentando. Por exemplo, com o Programa Ambientes Verdes e Saudáveis – PAVS, da Secretaria da Saúde, que no trabalho de promoção e proteção da saúde inclui a instalação de hortas em UBS e outros equipamentos. A Secretaria da Educação também tem as hortas nas escolas.
Na Sampa+Rural estão ainda dados oficiais de feiras livres e orgânicas, assim como os restaurantes com orgânicos, entregas de orgânicos e serviços para a agricultura. Temos quem produz e quem comercializa essa produção, é importante que as pessoas conheçam estes lugares, afinal só valorizamos aquilo que vemos, que tocamos.
Incluímos então, os dois pólos de ecoturismo da cidade, Parelheiros e Cantareira. Além disso, a categoria vivência rural, que são agricultores que abrem suas propriedades para visitas, tanto do consumidor quanto das escolas. Temos também uma biblioteca com vários materiais e uma página de Dados Abertos disponível.
Os selos de São Paulo que aproximam a população da plataforma Sampa + Rural
Lançamos a Sampa em 2020 e no começo de 2021 lançamos os selos.
A Sampa + Rural é a plataforma digital que reúne as informações e também os selos físicos espalhados por toda a cidade. Os selos são placas com um QR code que leva para a plataforma.
Os selos aproximam a população da plataforma, pois são colocados em todos os lugares que fazem parte do programa.
São dois selos, um para todos que estão na Sampa + Rural chamado “Nós fazemos a Sampa + Rural” e o outro para estabelecimentos que distribuem a produção local chamado “Aqui tem produção de Sampa”.
A continuidade do Programa
O projeto teve o aporte financeiro por ter ganho o prêmio em 2016. A virada de gestão em 2017 passou por momentos turbulentos até 2019. Em 19 a gestão que assumiu o projeto o fortaleceu. O financiamento acabou em junho de 2021.
Estamos num processo complexo para a prefeitura por tudo o que está acontecendo. Nossa expectativa é de internalização.
Há a necessidade de consolidação desse projeto, de inovações, metodologias, novas formas de se trabalhar com o rural na cidade. É um desafio bem grande para a prefeitura a partir de agora. Precisamos de mais extensionistas servidores públicos.
Os legados do projeto têm fundamentação e continuidade dentro da própria política pública, além da busca de novos financiamentos. “
Lia Palm se despede da nossa reportagem nos deixando uma mensagem contagiante.
“Estamos muito desconectados das nossas necessidades mais básicas e mais importantes, num processo muito pessoal fui fazendo um caminho de rever minha alimentação, do meu contato com a natureza e com as coisas que eram importantes para mim e naturalmente pelas vivências pessoais e de família esses assuntos me interessam. Estar no projeto foi um momento de encontro do profissional com o que eu realmente acredito e gosto.
É aqui que eu quero atuar, aqui é onde quero fazer a diferença. Para mim tem feito cada vez mais eco ter coerência em minha vida.
Como é que conseguimos trabalhar e dar nossa potência profissional, mas também fazer a nossa conexão pessoal?
O meu convite é para as pessoas participarem mais, e participar está no conhecer o outro, na amorosidade, no fazer junto.
Estamos vivendo um momento absurdo o que leva as pessoas para um desamparo absoluto, onde elas já não encontram mais nada ao
redor, uma desconstrução de tudo, uma desesperança.
Por outro lado tem muitas sementinhas sendo plantadas em todos os lugares.
Tem muito projeto interessante, muitas potências para participarmos a fim de que façamos a nossa parte e façamos com que nossas vidas tenham sentido aqui. Todo mundo faz parte de um elo, cada um no seu lugar.
Neste momento como servidora gostaria também de deixar uma mensagem para que valorizemos o servidor público. Há uma imagem de que o servidor não trabalha, mas é muito fácil dizermos isso quando temos esse serviço funcionando.
Quando falta o trabalho do servidor é que percebemos o quanto precisamos, quando estamos fragilizados é quando percebemos o quanto nos falta.
Existem muitos ataques à instituição pública e um deles é a desconsideração, frases como “não importa”, “nunca vai dar certo”, “não adianta nada”…
Temos muitos problemas, mas também temos muitas soluções.
Precisamos valorizar o setor público, as políticas públicas, precisamos entender os nossos direitos. Precisamos buscar esses direitos que são muitos, para que eles não possam ser atacados, esfacelados e de fato, não existirem mais.
Nesse momento como servidora é importante dizer isso. Tem muito a ser feito.”
Ligue os Pontos!
Dados Abertos
*Base completa Sampa + Rural
*Agricultores com contato – SisRural
*Agricultores da cidade de São Paulo
*Agricultores receptivos em “vivência rural” – Sampa + Rural
*Hortas Urbanas e Hortas Equipamentos Públicos – Sampa + Rural
*Aldeias indígenas Guarani – Sampa + Rural
*Parceiros da produção local – Sampa + Rural
*Mapa de feiras orgânicas – IDEC
*Feiras livres municipais – Geocampa, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
*Restaurantes orgânicos , Entregas de orgânicos e outras bases de Mercados- Sampa + Rural
*Serviço para Agricultura – Sampa + Rural
*Atrativos turísticos dos Polos de Ecoturismo – Secretaria Municipal de Turismo
*Iniciativas e Políticas Públicas – Sampa + Rural
*Pontos de doação – SP Cidade Solidária
Conheça mais em:
https://ligueospontos.prefeitura.sp.gov.br
https://sampamaisrural.prefeitura.sp.gov.br
A equipe do Ligue os Pontos
Os servidores a frente do projeto
Fernando Leme, Assistente de Gestão de Políticas Públicas. Atua nas atividades administrativas do projeto e apoia aspectos jurídicos.
Janaina Oliveira, Arquiteta e Urbanista. Atua nas frentes “Cadeia de Valor” e “Dados e Evidências” e em atividades de gestão do projeto.
Lia Palm, Analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental. Atua nas frentes “Fortalecimento da Agricultura”, “Cadeia de Valor” e “Dados e Evidências”, coordena o desenvolvimento e implantação das plataformas Sampa+Rural e do SisRural e atua na gestão do projeto.
Patrícia Sepe, Geóloga. Coordena a frente de “Dados e Evidências” e atua na gestão do projeto.
Consultores que atuaram no projeto
Amélia Sert, Analista de Tecnologia. Atuou no desenvolvimento da plataforma de conexão Sampa+Rural e do SisRural.
Anna Kaiser Mori, Arquiteta e urbanista, Idealizadora do projeto, coordenou a frente “Cadeia de Valor” e atuou na articulação e gestão do projeto.
Bruno de Assis Janini, Assistente de Políticas Públicas. Atuou na moderação da Sampa+Rural, no apoio ao desenvolvimento e implantação das plataformas Sampa+Rural e do SisRural.
Gabriela Momberg, Designer – Arquiteta e Urbanista. Colaborou com ações de engajamento e comunicação do projeto, através do desenvolvimento de material gráfico para web e publicações.
Lucas do Vale Moura, Analista de dados. Atuou nas frentes “Fortalecimento da agricultura”, “Cadeia de Valor” e “Dados e Evidências”, oferecendo suporte à produção de materiais, cartografias e metodologias para coleta, análises, estruturação e consolidação de bancos de dados.
Marcela Ferreira, Arquiteta e Urbanista. Atuou na equipe de gestão do projeto.
Mathews Vichr, Arquiteto e Urbanista. Atuou nas frentes “Fortalecimento da agricultura”, “Cadeia de Valor” e “Dados e Evidências”, no desenvolvimento e implantação das plataformas Sampa+Rural e do SisRural, em ações relacionadas a ATER e na gestão do projeto.
Nicole Gobeth, Engenheira Florestal. Atuou como gestora do projeto Ligue os Pontos.
Pedro Ramos, Assistente Administrativo – Engenheiro de Produção. Atuou nas atividades administrativas do projeto e no apoio à gestão do projeto.
Taís Tsukumo, Arquiteta e Urbanista. Atuou na equipe de gestão do projeto.
Equipe de Campo
Aieska Marinho, Articuladora Territorial – Pedagoga. Atuou na frente “Cadeia de Valor”, promovendo a mobilização e o engajamento da comunidade local com os eventos do projeto e no acompanhamento dos negócios acelerados.
Arpad Spalding, Articulador Territorial – Geógrafo. Viabilizou a articulação entre grupos e atores envolvidos na “Cadeia de Valor” da agricultura, atuou na abertura de oportunidades e realização de conexões para o fortalecimento dessa cadeia.
David Ferreira Jr., Coordenador técnico de ATER – Engenheiro Agrônomo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Domingos Pereira, Articulador Territorial – Sociólogo. Atuou na mobilização e engajamento no território, promovendo a participação pública e parcerias institucionais junto às diversas frentes do projeto.
Francisco dos Santos Ferreira, Técnico de ATER – Engenheiro Agrônomo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
João Vitor Carmezini, Técnico de ATER – Engenheiro Agrônomo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Jonatas Santos Pereira, Assistente de ATER – Biólogo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, apoiando as ações de campo.
Mauro Kayano, Técnico de ATER- Engenheiro Agrônomo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Paula Martins de Freitas, Técnica de ATER – Engenheira Agrônoma. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Robson Miranda, Analista de campo – Engenheiro Ambiental e de Segurança do Trabalho. Apoiou a coordenação da equipe de ATER na frente “Fortalecimento da Agricultura”.
Ronaldo Azarias, Técnico de ATER – Técnico Agrícola. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Rubia Toledo, Técnica de ATER – Técnica Agrícola. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Tiago Gomes, Técnico de ATER – Engenheiro Agrônomo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.
Vicente Coffani, Técnico de ATER – Engenheiro Agrônomo. Atuou na frente de “Fortalecimento da Agricultura”, prestando assistência técnica a agricultores que aderiram ao projeto.