Ele é Pacífico

A frente do Grupo Gaia, fundado em 2009, ele tem provocado profundas reflexões sobre quem nos tornamos em sociedade e o quanto é importante ressignificar, agora.

por Kátia Bagnarelli

Fotos de João Paulo Pacífico e equipe.

 

No dicionário pacífico é adjetivo, que ou o que ama ou almeja a paz, que se passa em atmosfera de paz, ou, ainda, que tem a paz como objetivo.

Para nosso entrevistado é parte de si, desde o nascimento.

João Paulo leva essa paz até no sobrenome e, como se fosse premeditado, sua voz e seu trabalho anunciam ao mundo contemporâneo a compaixão para o ambiente dos negócios.

Um homem com espírito de legado coletivo, é Pacífico.

Essa é a melhor definição para iniciarmos a matéria deste editorial, que traz parte da autobiografia de um dos mais relevantes líderes ativistas da atualidade.

A frente do Grupo Gaia, fundado em 2009, ele vem ressignificando o conceito de sucesso no mercado financeiro. A Corporação que ele lidera, empresa B desde 2014, tem como pilares a felicidade e o impacto socioambiental. O Grupo também atua com projetos de educação socioemocional, contribuindo com o desenvolvimento de alunos e professores da rede pública. Com valores propagados como pratique a gratidão, sorria e faça sorrir, vá além e surpreenda, viva com garra, comunique-se sincera e honestamente, crie valor e gere resultados, simplifique fazendo mais com menos, fortaleça o grupo pois unidos vamos mais longe, espalhe gentileza para engrandecer as relações e celebre, a liderança que ele exerce assina um céu que promete ser sempre azul.

Autor de duas obras, “A onda Azul” e “Seja líder como o mundo precisa”, João mostra, na prática, como a valorização das relações humanas pode estar a frente do lucro, e que um ambiente de trabalho feliz cria relações sólidas e promissoras. Com apenas 42 anos, o empresário relata com propriedade circunstâncias muito tóxicas vividas e presenciadas por ele em sua trajetória profissional pelo mercado financeiro.

Momentos estes comuns no Brasil nas tradicionais práticas de um mercado que sempre valorizou o poder e o dinheiro antes de qualquer relação humana saudável, nos explica ele. Foi numa tarde de quinta feira que a nossa equipe se encontrou com João pela primeira vez online. Jovem, com semblante sempre alegre e com os olhos brilhantes num ambiente de escritório com paredes azuis, João permaneceu atento a tela o tempo todo durante a nossa entrevista.

Depois de sessenta minutos de uma narrativa envolvente e impactante o convidamos a mais uma entrevista e, desta vez, presencial. Foi ao lado do casal Daniella e Roberto Lunardelli, líderes ativistas da Fazenda da Mata de orgânicos, e de sua assistente ativista Priscila Navarro que João Paulo Pacífico entrou em nossos estúdios em São Paulo.

Numa conversa de quase duas horas, nos deixou atônitos e energizados com reflexões empoderadas de humanidade, envoltas numa expertise para os negócios que soou como aula provocativa. Aliás, a provocação à reflexão é uma outra arte dominada por João, ele que na infância trabalhou como monitor num acampamento infantil que pertencia a sua mãe. Certamente, como ele diz, foi esta experiência que o ajudou a ter a dinâmica que tem hoje com as pessoas, colaborando com a forma de motivar e conduzir quem se aproxime dele, seja numa relação de trabalho, seja para ouvi-lo numa palestra. João nos explica que o acampamento o tirou o medo de ser julgado, pois eram outras épocas, década de 90 e ali com liberdade ele se vestia de mulher, de monstro, de Chapolim ou de qualquer outro personagem como uma legítima e ingênua forma infantil de promover a alegria. “O fato de poder brincar com as pessoas e não ligar para qualquer tipo de julgamento, me ajudou e me ajuda muito a ser mais autêntico em minha carreira, podendo arriscar algumas coisas que talvez outros tenham receio de arriscar. Falar de felicidade e gratidão no mercado financeiro, colocar um tobogã no escritório, fazer sites bem humorados das nossas empresas desde o começo do Grupo, acredito que o acampamento me soltou e me entregou muito aprendizado para estar em público motivando pessoas. Esse é o meu lado monitor de acampamento. Brinco que eu era monitor de acampamento e hoje sou monitor de empresa. Somos todos seres humanos, quando você consegue pegar um ser humano e fazê-lo esquecer o que ele é, a galera se diverte. O problema é quando estamos com aquela máscara posta do meio corporativo onde não se pode isso ou aquilo”, conta.

Na infância João praticou esporte como atleta, tendo na natação o seu refúgio para manter a disciplina, desenvolvendo a mente com dedicação, o que certamente lhe favoreceu em aprendizados paralelos. Como ele tinha que passar muito tempo no clube treinando quando adolescente, precisava fazer rápido as lições de casa. E foi nessa época que ele diz que “aprendeu a aprender rápido”. Curioso, ele navega em mundos diferentes com certa facilidade, característica essa que o aproxima dos negócios em que decide empreender. Pela ONG que dirige já beneficiou onze mil pessoas em seis anos de atuação. O Grupo Gaia é presente no Brasil com Securitização Imobiliária, Securitização Agrícola, Gestão de Recebíveis, Mercado Financeiro, Saúde e Bem Estar e Impacto Socioambiental. A seguir, com você leitor, João Paulo Pacífico em primeira pessoa, numa entrevista exclusiva para o editorial Onews.

A infância alegre

“Minha infância me preparou com disciplina e aprendi a correr atrás das coisas. Me lembro que ficava cantando bingo para festas de empresas, bem jovem ainda. E hoje é muito natural para mim toda essa comunicação. Eu comia muito na infância porque eu nadava muito, era muito magro. Me lembro de ir a um nutricionista na época que me deu um produto para tomar que tinha aqueles caras fortes na embalagem, era para repor o que eu estava consumindo em energia.

Nessa época eu comecei a ter muita dor de barriga para digerir as coisas, e eram dores muito fortes, me deitava no chão de tanta dor. Era começo de adolescência e fui a um médico bem experiente na época, ele disse que eu precisava comer mais verduras e mais legumes, e eu não comia alface por exemplo quando pequeno, eu não gostava.

Comecei então a introduzir aos poucos a verdura na alimentação e fizeram um exame detectando que em alguma parte do meu corpo tinha uma dificuldade, quando comia carne vermelha tinha problemas de digestão. Gostava muito de carne, entretanto, se não mastigasse direito sentia muita dor quando o alimento passava de um lugar para outro.

Me lembro ainda que, por causa desses episódios, me alertaram para comer mais fibras, mais verduras. Comecei a aumentar isso com o tempo. Lá atrás não tínhamos muita consciência e nem sei se falavam sobre orgânicos, por exemplo. Íamos comendo o que tinha. Quando comecei a trabalhar, reduzi o consumo de carne porque ela pesava para mim e me fazia mal. Quanto mais tempo eu ficava sem comer carne vermelha, quando comia eu ficava pior porque acredito que meu corpo se adequava e sofria com o retorno da carne. Até que parei de comer substituindo por peixe e frango.

Com 28 anos comecei a estudar o vegetarianismo, e decidi que quando fizesse 29, no dia do meu aniversário, pararia de comer todo tipo de carnes. Um pouco antes já consegui parar. Hoje em dia sou vegetariano, há quase 15 anos. A cada dia uma consciência maior e quanto mais dá para ser orgânico eu sou. Estou começando uma plantação de orgânicos. Minha alimentação lá atrás era qualquer coisa e agora está cada vez mais consciente.

A agroecologia

Não sou nenhum expert, comecei a agroecologia pela primeira vez com a turma do MST. Achei super interessante esse conceito que vai além do não uso de agrotóxicos, além dos orgânicos, onde se tem toda a questão social envolvida também. Na agroecologia você entende o todo. Você olha o lado social, ambiental, a biodiversidade. Os conceitos de agroecologia para mim são muito ricos e faz muito sentido num comparativo com a própria vida que tem que ser diversa. Ela não é uma monocultura com algum agroquímico em você. Quanto mais diversos forem os ambientes melhor, e você tem que olhar para todas as partes desses ambientes.

Tirando da agroecologia esse olhar e colocando em nossa vida não faz sentido você ter uma sociedade que está concentrada em algo. E como você consegue ter uma sociedade que está desconcentrada e que tenha várias frentes andando de forma saudável? A agroecologia é a saúde global.

O sítio agroecológico

Quando começou a pandemia passamos 60 dias em casa, com duas crianças pequenas, um terror. Naquele momento decidimos sair do apartamento que tinha muitas restrições para as crianças.

Alugamos então um sítio por seis meses sem nunca ter ido nesse sítio antes. Ficamos durante esse período por lá com as crianças correndo, brincando, até que pensamos “Nossa, que legal esse negócio de sítio”. Decidimos comprar um, mas se você falasse comigo há dois anos atrás esse jamais seria um dos nossos planos.

Começamos a procurar na mesma região do que passamos aqueles meses. A ideia era comprar e plantar, não era comprar pra ficar com o espaço com grama ou qualquer outra coisa. E o que fosse plantar tinha que ser orgânico. O contrário não faria o menor sentido e seria uma irresponsabilidade.

Encontramos então um sítio de 24 mil metros quadrados, que tinha muitos piquetes de cavalos, um campinho de futebol e uma casa. Quando compramos junto com o sítio vieram três cavalos, vendi um e doei dois. Algo interessante é que era uma terra muito dura, muito batida, por décadas, cavalos pisando. Defini logo ao entrar que ali seria uma agrofloresta. Conversei então com duas professoras da Unicamp, perguntei a elas o que seria possível fazer ali.

Me lembro de que quando fomos pegar um pouco da terra super batida para análise era difícil de cavar um buraco qualquer, era muito dura mesmo. Quando fizeram a análise do solo me disseram que era muito bom. Comecei então a mexer naquela terra somente com equipamento mecânico e nada que não fosse permitido no ecossistema de orgânicos.

Mexemos naquela terra toda e fizemos um projeto para estabelecer a agrofloresta. Fomos aprendendo e plantando. Em metade do espaço colocamos as árvores com carro chefe sendo a bananeira, uma super diversidade de frutíferas, árvores madeireiras também, nativas, hortaliças e assim por diante, testando aos poucos. Ainda não plantamos toda a área. O processo de plantar com as minhas filhas é super legal.

Vi ali coisas muito legais que utilizo inclusive em exemplos empresariais hoje em dia. Logo que fomos para lá peguei uma área que tinha um pequeno pomar, bem pequeno com um gramadinho, e coloquei algumas árvores frutíferas. Depois de seis meses eu fui plantar onde é a agrofloresta e o lugar das árvores frutíferas era um gramado que tinha algumas árvores e ponto. O lado da agrofloresta era um solo super duro. Mexi bastante nele e depois de mexer, deixei-o preparado, inseri adubo verde e aí sim, fui plantar as árvores. Seis meses depois de ter plantado foi incomparável as respostas de cada área. Nas que mexi no solo, elas cresceram e ficaram gigantes perto das do pomar, onde não tratei a terra, e ficaram pequeninas.

Entendi ali a importância de se trabalhar o solo com elementos naturais, como isso fortalece e faz com que a árvore cresça muito forte. Ainda não consigo dar a atenção que eu gostaria de dar para o sítio, mas estou super contente com isso. Uma observação interessante sobre a natureza é a chuva. Muitas vezes quando chove na cidade é um problema, e na natureza não, a chuva é alimento, e observar aquela água irrigando tudo aquilo é muito especial, como ela é potente e mesmo no verão, quando chove mais, a grama cresce muito mais também. Isso tudo é muito rico. Temos um poço artesiano profundo lá. Têm sido uma experiência muito legal. Quando falamos em agricultura vem essa crença que a indústria dos insumos passa para gente que sem insumos convencionais você não consegue alimentar ninguém e é uma grande mentira, e eles vão introduzindo isso na cabeça dos jornalistas e de todo nós de que o agro é pop, o agro é isso, é aquilo, e deixam completamente de lado a agricultura familiar, orgânica, agroecológica, regenerativa, em prol de uma agricultura que não é nada sustentável.

O coração de impacto do líder

Investimento de impacto

Cheguei ao impacto através de um conhecido. Na primeira vez que estive com ele, me trouxe um projeto sobre reformar casas na comunidade de favela. Pensei, caramba, que legal, eu quero fazer esse negócio.

Achei tão incrível essa oportunidade de poder reformar centenas de casas nessas comunidades que me comprometi a fazer essa estrutura acontecer.

Me lembro bem que falei: vai dar certo!

Quanto mais fui expandindo minha consciência e entendendo a sociedade na qual a gente vive, de onde vem as informações e porquê elas vêm, o que estamos criando como mundo para as próximas gerações, fui me engajando mais e mais. Até o momento em que comecei a ficar incomodado com o que não era impacto e num determinado tempo revi todos os negócios que eu já tinha feito na vida e tentei me lembrar quais teriam sido os que me fizeram feliz em fazer, aqueles que me trouxeram alegria e prazer. Estes tinham sido uns dois ou três que eram os menores mas os que causavam o maior impacto. Compreendi ali que o que me dá prazer não é fazer uma operação com uma grande empresa em grandes operações divulgadas nos jornais, estas se eu não faço, alguém vai fazer. Mas, quando eu vou lá e reformo por exemplo a casa de alguém na comunidade, onde antes a pessoa morava num barraco, sem janela, com chão de barro e de repente você entrega dignidade para ela conseguir dormir e não ficar doente, poder receber outras pessoas em casa, percebo que meu trabalho está fazendo efeito na vida daquela pessoa. Decidi então que somente queria fazer isso dali para frente. Negócios de impacto. Se eu consigo usar minha habilidade para fazer o bem para as pessoas, trago um senso de propósito muito forte. Quanto mais aprendia as coisas e falava sobre elas, ia engajando pessoas nesse mundo novo. Cada vez mais, naturalmente foi acontecendo isso e o grande ponto é: como consigo pegar as habilidades que eu e minha empresa temos para causar uma transformação positiva no mundo?

Isso é muito forte.

 

 

Você que tem uma habilidade ou ferramenta pode usá-la para várias coisas, como uma faca que você pode usar para matar ou para cortar legumes.

E no mercado financeiro tenho várias ferramentas, posso usar essa ferramenta simplesmente para benefício de poucos ou de muitos que não tenham acesso.

Decidi somente, então, fazer impacto, falando o que acredito e mergulhando de cabeça nisso. Quanto mais fomos nos direcionando para isso, os negócios de impacto também foram nos chamando, cada vez mais.

Você vai se engajando e quando você faz as coisas com essa paixão, com esse amor, você convence as pessoas a investirem nos seus projetos de impacto.

Vendi toda a parte que não é impacto da Gaia. Agora a Gaia é 100% impactante. Agora só quero fazer isso da vida.

Eu garanto que quando você consegue atuar no impacto causando uma transformação na vida das pessoas, o sentido do seu trabalho fica muito maior. Você acaba querendo fazer mais, olha para essas pessoas que são jogadas de escanteio na sociedade e dá mais atenção a elas. Olha que rico isso!

Fazer isso de uma forma muito diferente de como o mercado olha aquele mundo da competição, de um contra o outro. Não, eu quero que todo mundo fique bem, quero que tenham 55 bilhões de empresas de impacto, quero que não tenham pessoas dormindo na rua, eu quero que não tenha uma pessoa com fome no Brasil e no mundo.

Passar fome é muito ruim.

Estava voltando depois de deixar minhas filhas na escola e vi um cara tomando banho na sarjeta, isso é muito injusto na sociedade. Aquela pessoa não escolheu estar lá. Ela está lá por um problema de todos nós. E se eu que tenho acesso a mais não fizer nada, vai ficar cada vez pior, ou se apenas ficar cobrando os outros de fazerem e eu não faço nada, ficará cada vez pior. Hoje em dia consigo atuar com as ferramentas que tenho ao meu dispor e todos os privilégios que eu trouxe em minha vida.

Não posso fechar os olhos e esquecer quem precisa achando que sou o “bam bam bam” e você que lute. Ter essa consciência ajuda demais. O que me difere é a consciência, é você entender que nascemos em bolhas, e ficamos nessas bolhas, eu era dessa bolha, mas a curiosidade, a sorte, o contato com pessoas me fizeram estourar essa bolha e olhar para fora dela. E quando você olha para fora dela você tem que estar aberto a isso também. Os vieses e os preconceitos conscientes ou não nos cegam. Eu não sou absolutamente nem um pouco mais especial, sou exatamente igual as outras pessoas só que tenho uma consciência que muitas pessoas não tem. O que eu adoraria e procuraria mostrar de alguma forma aqui é que a reflexão é importante.

Não quero que você concorde comigo, mas quero que você reflita.

Não tenho a verdade absoluta, mas se você refletir você pode chegar a se perguntar se aquilo que você acreditou a vida inteira é assim mesmo, ou será que você pode fazer as coisas de uma forma diferente?

Será que o mundo tem que ser uma guerra onde eu tenho que ganhar e alguém tem que perder? Falta ampliação de consciência.

Essa consciência vem de duas formas, uma é adquirindo informação e a outra é adquirindo experiência. Uma coisa é uma pessoa dizer que é contra o assentamento da reforma agrária porque leu no jornal, outra coisa é visitar.

Educação

Cada vez mais temos uma educação diferente e é lógico que temos duas esferas, a educação privada e a educação pública, infelizmente.

Na educação privada a consciência ambiental está cada vez mais forte, educação social tenho um pouco de dúvida.

Essa nova geração nasce digital e já nasce com uma consciência muito grande, temos exemplos maravilhosos como o Fridays For Future da Greta Thunberg, ou como aqueles adolescentes que conseguem mobilizar e constranger grandes líderes em relação ao aquecimento global. É maravilhoso ser voz no mundo.

Na escola privada a questão social ainda carece muito, temos que caminhar um pouco mais, muito devido a uma visão elitista escravocrata que a sociedade brasileira continua tendo ainda hoje. No Brasil a escravidão acabou faz pouco tempo formalmente, mas de fato ainda não, na visão das pessoas. A educação pública infelizmente está muito sucateada, a educação pública é muito ruim, os professores da rede pública do Brasil são muito mal remunerados, muito mal cuidados, e a culpa não é deles. Nós temos aqui realmente um problema e é algo que temos que tratar.

 

a culpa é nossa

É fundamental conseguirmos mudar isso porque para melhorar uma nação nós precisamos educar e formar essa nação.

Mesmo nos EUA, que tem péssimos exemplos em várias coisas, a educação pública é muito boa, lá você consegue ter uma diversidade na educação pública.

Na classe das minhas filhas aqui não tem nenhuma pessoa negra, infelizmente. Elas acabam não tendo contato com essa rica diversidade brasileira, e são escolas caríssimas.

Adoraria que tivesse um ensino público e privado de muita qualidade com diversidade para ter uma melhor formação das próximas gerações.

Pagamos um preço muito alto pela falta de formação das pessoas e a culpa é nossa e não delas que não estão sendo formadas.

Efetivamente sabendo que você e cada pessoa que nos lê e assiste tem uma responsabilidade, a pergunta é: o que você está fazendo com essa responsabilidade que você tem? Essa responsabilidade vai desde a forma como você consome os seus produtos, como você investe seu dinheiro, como você se veste, como você forma seus filhos.

O que você está fazendo?

Você está agindo de uma forma egoísta, simplesmente para acumular mais e não está preocupado por exemplo, com a questão ambiental do mundo ou você está realmente agindo com essa responsabilidade?

Porque eu gosto de falar que quando você tem uma informação, se você não agir para mudar você está sendo conivente com aquilo

Hoje todo mundo já sabe que nós temos alguns problemas muito grandes como por exemplo o aquecimento global, a falta de alimentos, a falta de moradia, a escravidão, e o que você faz para que isso não se perpetue para as próximas gerações?

Consumir é um ato político. Investir é um ato político.

Uma coisa que falta hoje é compaixão. E aí você pode dizer, mas poxa falar de compaixão no mundo dos negócios?, sim. Porque quando você entende que a gente faz parte de uma mesma sociedade, e me veio um exemplo na cabeça agora: imagine que você tem cinco filhos, para quatro você entrega educação, comida e tudo o que eles precisam e um deles você deixa passar fome e outras necessidades.

A partir de então você não pode pedir para este filho que foi privado de muito, que se dedique mais, ele não teve condição para isso, não recebeu educação, não teve nada.

O que acontece numa sociedade que começa incentivando mais e mais essa competição de um com o outro, é que você olha muitas vezes o seu fornecedor como se fosse alguém que está indo contra você, você tem que ganhar dele, apertar o seu fornecedor, pagá-lo depois de sessenta, noventa ou cento e vinte dias e ainda conclui que conseguiu lucrar mais com isso. E muitas vezes esse fornecedor vai quebrar. É justo você fazer alguém quebrar? É uma família, é um empreendedor, tem funcionários lá dentro.

E quando a gente inverte isso, o que é a compaixão? É você ter empatia pela outra pessoa e agir para que essa pessoa não sofra. E quando você passa a ter compaixão pelo outro você pensa que não quer que um fornecedor quebre, porque é injusto com a sociedade e com aquela pessoa que está lá.

O primeiro ponto é termos mais consciência social.

É você ficar chateado quando tem alguém em situação de rua. E depois entender que você, por ter um poder econômico maior, você tem poder de mudar as coisas. Muitas vezes não é pensar que aquele fornecedor está fornecendo porque quer e sim, porque não tem outra opção. É você compreender que tem uma responsabilidade com aquele fornecedor para que ele cresça também.

A prosperidade compartilhada citada por exemplo por Daniela e Roberto Lunardelli da Fazenda da Mata é isso: olha que legal se você tem um fornecedor que está crescendo e prosperando com seus funcionários, você vai ficar feliz, você é parte daquilo, para seu negócio a longo prazo será bom também e as pessoas vão torcer por você.

Caso contrário, quando você está numa relação de poder que você manda nos outros e eles farão aquilo só porque tem interesse em você, no dia em que você cair ninguém vai te ajudar. Porque as pessoas estão atrás de você só por interesse.

E que sociedade é essa em que as pessoas estão atrás umas das outras só pelo interesse no poder e no dinheiro?

Acho que chegou a hora de ressignificar um pouco isso. De olhar para o outro e perceber como é possível fazer o outro ser melhor também e juntos como podemos olhar como parceria de verdade e não como aquela parceria de propaganda onde na verdade um quer massacrar o outro. Tenho visto isso diariamente.

Trazer o impacto para os negócios é você olhar o outro, é você ter compaixão pela outra pessoa, são valores humanos. A agricultura tem um negócio maravilhoso que é a geração de riqueza. E se você pensar bem é quase um milagre, você pegar uma terra e uma semente muito pequena imperceptível para a visão, e dali a algumas semanas ou meses ela vai virar uma planta produtiva. É geração literal de riqueza, e o que a agricultura orgânica faz é geração de riqueza sem veneno. Aliás tem uma coisa que não faz muito sentido para mim que é a agricultura ser

chamada de convencional com transgênico e com veneno.

Deveriam nomear como: “isso tem veneno”, “isso não tem veneno”.

Afinal você vai alimentar seu filho com o quê?

Com o que tem veneno ou com o que não tem?

Acho que a maioria das pessoas escolherão pelo não veneno, mas convencionou-se que o convencional é fazer algo que não é orgânico.

E olha o espaço que eles vêm ganhando nestas últimas décadas.

Então de um lado, temos a geração de riqueza com saúde, do outro tem o capital, o que o mercado financeiro tem que fazer é juntar essas duas pontas. Esse é um pouco do papel que nós temos como Grupo Gaia, como quando nós vamos lá e financiamos assentados da reforma agrária, onde eles estão gerando riqueza e do outro lado tem alguém querendo investir, juntamos essas pessoas e seus objetivos de uma forma compassiva também, com compaixão, porque no mercado financeiro, por ser um setor que lida com muitos valores e muito poder, as pessoas passam a olhar todo mundo como número.

Faço uma analogia em que o mercado financeiro deveria ser uma ponte em que você liga quem produz riqueza com quem está querendo poupar. Entretanto, de forma completamente errada o mercado financeiro virou protagonista.

Existe então uma exploração de quem está plantando e do investidor e o mercado financeiro se destaca como protagonista. Este é um mercado muito concentrado e o que nós estamos tentando fazer é mostrar que existem outras formas de fazer isso funcionar.

Sobre a felicidade

Há nove anos comecei a estudar felicidade, a ciência da felicidade, a psicologia positiva.

No fundo todo mundo quer ser mais feliz.

Comecei a estudar essa ciência que veio no final da década de 90 com Martin Seligman.

E primeiro preciso falar de uma coisa que é muito importante, quando falamos em uma vida feliz, é uma vida que tem sim sentimentos desagradáveis e só tem dois tipos de pessoas que não tem esses sentimentos desagradáveis como medo, raiva, ódio e ansiedade que são as pessoas que já morreram e os psicopatas.

Se você tem sentimentos desagradáveis como tristeza, por exemplo, agradeça porque está tudo certo. É natural. E a grande questão é você voltar para o ponto de partida, onde você estava antes. Você vai ficar triste, vai acolher sua tristeza, vai entender aquele momento como um momento difícil e você retorna para um ponto base que é um ponto melhor.

A teoria do Tal Ben Shahar é uma que gosto muito, onde ele diz que a felicidade é o bem estar integral da pessoa em cinco aspectos: o espiritual, o físico, o intelectual, o relacional e o emocional, é uma teoria bem grande, mas em base é isso, é você buscar o bem estar.

a ciência da felicidade

em cinco aspectos: o espiritual, o físico, o intelectual, o relacional e o emocional.

Nota da redação: Tal Ben Shahar é professor em Harvard e tornou-se famoso por suas aulas sobre felicidade, que ele define como “a sensação geral de prazer e significado; uma pessoa feliz aprecia as emoções positivas ao mesmo tempo em que considera que sua vida é cheia de significado”.

Pessoas mais felizes são pessoas mais conscientes, que colaboram mais com as outras pessoas, a ciência mostra isso. O que acontece é que tem muita gente que acaba tendo um vazio interno grande e nosso cérebro nos engana, seguimos acreditando que seremos mais felizes o dia que ganharmos um milhão, e você ganha e pensa que não está mais tão feliz, ou o dia em que for famoso, e você fica famoso e não fica feliz, numa corrida atrás de algo que nunca irá lhe satisfazer.

Esse comportamento gera uma sociedade tóxica que não tem uma consciência desenvolvida, fazendo do todo uma sociedade pior.

Por outro lado a generosidade traz mais generosidade, quando alguém é gentil com você, você espalha isso para os outros também. Nos negócios isso é super válido. Quando você faz uma negociação com outra empresa, pode ser uma negociação pesada, dura, triste ou pode ser uma negociação positiva e que você vai abrir a sua realidade na mesa de negócios, ele vai abrir a realidade dele, vocês vão se entender e concretizar o necessário. Acabei de fazer uma negociação que teoricamente é difícil, vendi grande parte de uma empresa chamada Planeta e o processo foi muito leve. Eu dizia para os advogados que fazem parte de um dos maiores escritórios do Brasil, que eles eram muito legais e eles falavam “a gente é legal porque vocês são legais,

não é assim com todo cliente”. Em nenhum momento quisemos operar o outro lado, fazendo aquele jogo muito comum, não, nós fomos completamente abertos em todos os aspectos nessa e em todas as nossas negociações. Com todo mundo. Foi gostoso, foi divertido. Depois do processo as pessoas não estavam exaustas, elas estavam felizes. A sensação é a de que deu certo para todo mundo, e não aquela sensação de que eu ganhei e você perdeu. Os advogados estavam lá por um interesse coletivo no final das contas.

É uma forma diferente de negociar e isso é possível? Sim, é possível!! E diria que é necessário.

Por mais que a ciência tenha evoluído muito e nós tenhamos muita informação nos dias de hoje, temos uma geração de pessoas com burnout enorme, que é o estresse proveniente do trabalho, aquela sensação de exaustão física e mental. Os níveis de depressão e ansiedade estão cada vez maiores, crianças e jovens que pela ausência dos pais estão com a cabeça em outro lugar. Olhem para a sociedade que estamos criando, não precisava ser assim.

A Gaia é um exemplo de empresa do mercado financeiro que fez e faz tudo praticando a gratidão por exemplo, que é um valor que nós temos, nos dando muito bem em todos os aspectos.

Começamos, crescemos, vendemos um negócio que foi muito bem sucedido para os parâmetros do mercado, mas muito mais do que isso, para os parâmetros da sociedade quando temos várias ações coletivas como a que montamos com a Gaia+, que é uma Ong reconhecida como atividade social. Isso mostra que é possível juntar todos os aspectos de mercado e não focar sempre só no dinheiro, dinheiro e dinheiro.

O ativista

Ser ativista é agir com propósito e a ciência da felicidade nos mostra isso. Quando você tem atitudes que trazem significado para a sua vida, você fica mais feliz do que ter uma vida vazia só correndo atrás de dinheiro.

Que fique claro que dinheiro não é ruim, é bom ter dinheiro, entretanto uma vida focada apenas em dinheiro é uma vida muito pobre, como aquela frase antiga que uma pessoa é tão pobre, tão pobre, que só tem dinheiro. Quando você é ativista você abraça causas, causas dos orgânicos, dos animais, das pessoas, a do investimento de impacto…

Ser ativista, sem dúvidas, traz essa sensação de prazer e de propósito para sua vida.

Entretanto tem um ponto importante que menciono em meu livro, em que o ativista é o contrário do mercenário. O mercenário é aquela pessoa que prioriza o dinheiro e que passará por cima de quem for somente para ganhar ainda mais dinheiro.

O ativista além do interesse pelo dinheiro que é natural e saudável ele tem um propósito maior. Este é um dos eixos que menciono no livro. O outro eixo é onde se encontram as pessoas tóxicas e aquelas que tem comportamentos humanos. Encontramos, portanto, pessoas que são ativistas, mas que são tóxicas em nome de um possível bem, tratando mal as pessoas. Temos que, com cuidado, olhar esse multidimensional pois o ideal é você ter um comportamento humano com a outra pessoa, que promova o bem estar do outro, mas também que traga o propósito do ativismo. Por outro lado tem pessoas que são muito humanas, tratam bem a todos, mas que são extremamente mercenárias e o que elas estão fazendo é ruim para o planeta. Tem um exemplo, uma empresa que foi comprada recentemente muito conhecida e foi condenada pela questão dos transgênicos e agrotóxicos, mas quem trabalhava lá adorava trabalhar nessa empresa porque ela viabilizou muitos benefícios super legais, por outro lado o produto que ela vendia era muito ruim para a humanidade. Precisamos então balancear as coisas, um lado é como a gente trata as pessoas e o que o nosso trabalho está gerando para o bem do planeta, das pessoas e da gente também. Tudo começa com o autoconhecimento.

É muito comum você ler nos livros ou em outros lugares que para você ser de certa forma precisa seguir cinco ou dez passos. Há sempre uma receita de bolo externo. Entretanto tudo começa com a sua auto percepção, você se tratar com auto gentileza, o que é algo difícil pois muitas vezes tratamos de forma mais gentil o outro do que a gente mesmo.

Existe um outro conceito que é maravilhoso, o da auto compaixão, que passa pela auto gentileza, como você trata você mesmo, você está no momento presente e se respeita como ser humano? Como autoestima, auto e baixa: com uma autoestima baixa você não tem forças para levantar e uma autoestima alta quaisquer percalços geram um grande tombo que lhe machuca. O ponto é, deixe de lado a autoestima e olhe a autocompaixão, onde você se compreende como ser humano, com erros e acertos, percebe que vai cair e vai ajudar a si mesmo a levantar, porque principalmente, você compreende que cair faz parte do processo.

Ninguém terá uma vida sem quedas, e ainda bem, senão essa vida seria muito chata.

Esses desafios fazem parte da vida.

Você se tratar com autocompaixão é o primeiro passo para você ter mais consciência.

Você se trata bem, se entende melhor e começa a compreender qual é o seu impacto no mundo. A forma como você trata aquela pessoa que você não conhece, o que você está de fato entregando a ela, um copo de veneno ou amor?

Acha que é justo com aquela pessoa, que trabalha na sua lavoura, quando você planta e utiliza agrotóxicos que certamente irão fazer muito mal para ela, podendo gerar um câncer por exemplo por causa disso?

É justo com aquela criança que vai comer aquele produto infestado de agrotóxico?

Quando começamos a refletir você entende que não é justo ganhar dinheiro às custas do câncer de alguém. Você gostaria de ganhar este dinheiro assim? Não é tão legal. Tudo parte de dentro da gente, da auto percepção, e você começa a expandir a consciência.

Precisamos entender que é a caminhada que vale, onde não temos que ficar nos culpando pelas coisas erradas que fizemos, e sim apenas ir arrumando de uma vez por todas a rota.

O mercado financeiro e o olhar para as empresas de impacto

Minha visão não traz nenhuma couraça científica sobre isso, mas funciona assim: o mercado financeiro mais tradicional, grandes bancos que falam em ESG, que é o ambiental, social e governança, hoje em dia soam mais greenwashing que significa mais falar sobre do que fazer.

Quando você pega os grandes grupos financeiros sem querer nomeá-los, eles têm uma preocupação de marketing, mas quando você desce uma camada e fala com pessoas físicas que estão aplicando seu dinheiro você percebe uma evolução muito grande principalmente nas novas plataformas de investimento crowdfunding.

Nós temos um exemplo. Fizemos uma operação para financiar sete cooperativas ligadas ao MST, sete cooperativas que passaram por toda a diligência de um dos maiores escritórios de advocacia e a Gaia foi a emissora desse título. Sem contar com o apoio de ninguém, pelo contrário, tiveram várias retaliações contra a gente, nós tivemos como resultado mais de cinco mil pessoas que quiseram investir nesse título.

Hum mil e quinhentas pessoas investiram, lotou o espaço, foram captações de alguns vários milhões de reais, e o dinheiro era para assentados da reforma agrária que plantam grande parte deles orgânicos, ligados a agroecologia, e com uma taxa de juros inferior a que eles encontram em outros lugares.

Sem nenhum marketing, pois não investimos em propaganda, 1500 pessoas quiseram investir numa taxa mais baixa que eventualmente emprestar dinheiro para Petrobras, comparando aqui, sem julgar.

Isso nos mostra que pessoas estão querendo fazer isso, grandes grupos eu acho que ainda não.

O céu azul

Para mim o céu azul significa esperança.

Que por mais que, em alguns momentos tenha uma tempestade onde você não consiga enxergar um palmo à sua frente embora você não saiba quando, você sente uma certeza de que em algum momento o céu azul vai voltar, ele vai aparecer.

É a esperança que move a gente.

Sobre o livro “Seja líder como o mundo precisa”, editora Harper Collins

Escrevi meu primeiro livro que foi publicado em 2016, na verdade até oficialmente, no primeiro dia de 2017. O que me motivou a escrever o primeiro foi ter tido uma hérnia de disco. Não conseguia fazer esporte de manhã, acordava muito cedo, resolvi escrever, pensei em organizar minhas ideias.

O primeiro livro foi um processo de ocupar meu tempo de madrugada, nas primeiras horas da manhã escrevendo. Era reviver o que eu tinha vivido e organizar isso em termos de ideias. Tive muitos feedbacks legais nesses anos que se passaram porque pessoas que liam aleatoriamente enviavam mensagens dizendo que o livro as inspirava a empreender, e esse é o tipo de feedback que não tem preço. Quando você escreve, o impacto que você pode causar em alguém que você não conhece é muito legal.

Minha equipe me cobrava muito que estava chegando a hora de escrever outro livro. Eu achava que não precisava ainda voltar a escrever.

Até que em 2019 um amigo me chamou para almoçar com a Renata da Harper Collins. No primeiro livro me lembro que enviei mensagem para todas as editoras e ninguém nem me respondeu, iria então fazer uma autopublicação até que chegou uma editora muito pequena, mas muito atenciosa conosco que topou editar.

E foi durante o almoço com a Renata e com esse amigo que fui provocado por ela me perguntando se não queria escrever outro livro naquele momento. Comecei a refletir e olhando as coisas internas que estávamos falando e fazendo na Gaia, começou a me vir uma vontade de escrever o segundo livro.

Nas minhas meditações tive insights criativos. O diagrama que apresento no livro me veio pronto num insight, me lembro bem. Me lembro que tinha que fazer um vídeo explicando o sentido do livro para a Editora. Me convidaram a partir dali para ser um autor da Harper o que me fez muito feliz. Eu já tinha um desenhão do livro, de como ele seria.

Escrever um livro para mim é um processo diferente, nunca escrevo durante a rotina de trabalho. A hora que tenho mais criatividade e a mente sã é no período da manhã. E desta vez houve algo que facilitou o processo demais da conta, usei um aplicativo chamado scrivener, foi como encaixar as peças de um grande quebra cabeça.

Fui encaixando e criando as lógicas lá dentro. Pensava no foco da primeira parte por exemplo, começava então a reviver histórias e mergulhar em estudos. Estudei muito, há muitas referências neste livro. Comecei a escrever um pouco antes da pandemia, e a maior parte dele durante a pandemia. Por um bom tempo da escrita do livro estava naquele sítio que aluguei, acordava de manhãzinha e mergulhava em escrever, pensar, ler.

Não me lembro exatamente o tempo que levou, mas acredito ter sido um ano. Escrevo sozinho sempre. Quando acabei entreguei cópias para Priscila, da minha equipe Gaia, para minha esposa Carol e para meu irmão.

Os três leram, fizemos um papo, passaram todas as suas considerações, sugestões, modificações e com base nesse processo incorporei tudo no livro e encaminhei para a Harper. O processo com a Editora ocorre em duas etapas. A primeira é a validação com sugestão dos textos do livro por uma pessoa técnica, como um direcionamento de trechos em trechos. Essa parte para mim é disparada a mais difícil, porque uma coisa é escrever que eu gosto muito, outra coisa é adaptar o meu texto com base nas considerações da Editora. Acho muito chato e nessa parte eu travava muito. Terminada essa fase vem para o time uma revisora de texto, que irá conferir todas as referências, datas e detalhes. Finalmente olho, confiro tudo e terminamos, prontos para publicação.

O processo foi muito bacana. O que é interessante é que se tem um tempo entre escrever e revisar e quando fui ver o livro pronto, comecei a ler e pensei “nossa, como está legal esse livro”, pois eu não me lembrava muito apesar de ter escrito tudo.

Fizemos o lançamento no webinário com Edu Moreira, e atrelamos a isso um curso do livro. Esse processo foi muito legal para mim porque me forçou a ler novamente a obra, a grifar temas que poderia inserir no curso, montando assim dez aulas de uma hora cada. Estou consolidando ainda mais as coisas e quando você explica várias vezes, isso alicerça melhor em sua mente. O momento atual é de explicar o livro em forma de aulas.

Fico muito feliz quando vejo as pessoas postando e lendo essa obra.

Evito ter expectativas, mas tenho desejos. A expectativa pode frustrar muito qualquer momento da vida.

Adoraria que as pessoas vissem, mas se impactar uma pessoa já está valendo meu esforço. A qualidade é melhor que a quantidade, e é óbvio que quando você consegue ter ambos também conseguirá impactar mais gente.

Se eu consigo através de palavras, assim como os livros fazem comigo, escrever algo que possa ressoar para pessoas fazendo-as refletir sobre um ponto ou outro, estou feliz.

Hoje em dia é muito comum buscarmos os likes de publicações ou seguidores de redes sociais, o risco disso é ficar refém dessas métricas e se fico refém delas posso perder meu objetivo principal que é causar impacto positivo. O que faz mais sentido para mim não é o ser mais popular e sim o ser mais impactante.”

 

João finaliza conosco a entrevista com o mesmo brilho e disposição que iniciou.

De nossos estúdios, encerrada sua estada com nossa equipe no jornal, provavelmente seguirá para um ou dezenas de novos compromissos. Ele é um viajante com espírito de legado coletivo e que está sempre disponível para a alegria. Com ele o Brasil está cada vez mais orgânico, acessível e justo para todos.

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