Família Galhardi,
32 anos democratizando a beleza e a saúde com a bucha vegetal e os cosméticos da marca Orgânica
por Kátia Bagnarelli, exclusivo
De acordo com a Bio Brazil Fair e Natural Tech, a maior feira de negócios de orgânicos da América Latina, o mercado brasileiro de produtos orgânicos de alimentos e cosméticos movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano, com crescimento anual médio de 20%.
Já no panorama atual do consumo de orgânicos no Brasil realizado pela Organis em parceria com a Brain e com Unir Orgânicos, há uma disposição em 55% dos entrevistados na pesquisa realizada, para o consumo de cosméticos orgânicos certificados.
O problema é que no Brasil ainda não há certificação orgânica e as indústrias que produzem enfrentam, portanto, um cenário desafiador para se posicionar para o consumidor.
A nossa redação foi conhecer a história e as superações do Grupo Orgânica, que tem como fundadores os agrônomos Luiz e Pérola Galhardi.
O casal atua em todas as fases do empreendimento ao lado dos filhos João e Octávio, transformando o Grupo Orgânica numa indústria brasileira líder na produção de buchas vegetais orgânicas com posicionamento de franquia num projeto de responsabilidade econômica e social com empreendedores individuais de todo o Brasil.
Quem nos conta essa bela história a seguir é a dupla, o pai Luiz, diretor executivo da Orgânica e o filho João, atual diretor de marketing do Grupo.
“Nasci ouvindo meus pais contarem sobre a fábrica e sobre a nossa plantação. Desde pequenos, eu e meu irmão Octávio que atualmente trabalha comigo, ouvíamos falar sobre empreendedorismo e muita bucha vegetal. A Orgânica é uma empresa de 32 anos.
Meus pais como agrônomos vieram da plantação e portanto, o conhecimento deles era voltado para a terra, somada à vontade de empreender.
Durante a faculdade que fizeram juntos em Machado, Minas Gerais, aprenderam a cultivar muitas plantas e uma delas foi a bucha vegetal. Entretanto é engraçado que naquela época, a bucha era algo meio sucateado.
Não havia literatura específica que falasse ou ensinasse a cultivá-la.
Meu pai, que sempre foi muito apaixonado por tudo que é ligado ao agro, percebeu que queria entender mais sobre esse cultivo, estudar sobre o negócio fazendo com que ele ganhasse outra dimensão.
Antigamente você encontrava bucha na casa da avó, no sítio do amigo…
Terminaram então a faculdade já morando no interior de São Paulo, haviam se mudado de volta para uma cidade chamada Avaré. E lá compraram um sítio pequeno e começaram a plantação de bucha vegetal.
Me recordo muito bem de brincar no chão na terra olhando para a plantação, é muito bom lembrar porque esse momento é muito forte para nós.
A plantação cresceu, nós também, mas até hoje vamos para lá, temos muitos momentos bons juntos na fazenda. No começo falaram que eles eram loucos, pois não ganhariam dinheiro com a bucha vegetal.
Minha mãe sempre teve a visão voltada para criação e meu pai para o desenvolvimento técnico.
Foi ela que trouxe a possibilidade da bucha vegetal ganhar valor agregado e diferenciado nos propondo fazer coisas diferentes com a produção, como produto para o banho.
Começaram então a fabricar buchas com formatos diferentes, atoalhadas, buchas lava costas e com refil, por exemplo. Foram criando progressivamente novos produtos.
Conseguiram através dessa mudança um valor agregado e colocaram essa bucha vegetal em vários players do mercado.
Nessa época eu já era um adolescente e era um pouco engraçado pois eu ouvia muitas reclamações vinda deles, meus pais.
Eles diziam sempre que empreender era muito difícil, mais complicado no Brasil, que ter fábrica é muito complicado, mas ao mesmo tempo nós víamos amor pelo que estavam fazendo.
Durante a minha faculdade de direito já comecei a entender que gostava muito de atender as pessoas, desde pequeno trabalhei com vendas por gostar disso.
Em 2015 estávamos numa crise muito forte no Brasil, muitas empresas fechando, e a Orgânica estava centralizada para grandes players de mercado, vendia para o Carrefour, Walmart, Pão de Açúcar, principalmente com acessórios para banho.
Naquele momento meus pais me convidaram para atuar na indústria dizendo que faria diferença. Eu já fazia estágio naquela época e ia para o escritório, achava tudo muito engessado talvez. Disse isso à eles, que o que gosto é do front do negócio, de atuar com o cliente.
Então respondi que iria desde que desbravasse uma nova frente da Orgânica, o B2C. Pérola sempre teve o sonho de fortalecer a marca.
Quando entrei reforcei a eles que tinham uma história linda e verdadeira, produtos maravilhosos, mas precisavam contar isso ao Brasil. O Luiz sempre foi mais pé no chão, mas mesmo durante a crise aceitou arriscar.
Tive então inúmeras dificuldades porque tinha que me provar, não é fácil vindo de uma área completamente diferente que não me ensinou a empreender, a fazer negócios e nem a ganhar dinheiro.
Sentia uma grande cobrança e uma certa expectativa por parte de meu pai, que por eu ter escolhido a área jurídica esperava que me tornasse um juiz ou desembargador. E ele disse que mesmo abraçando a indústria eu não abandonaria o direito e teria ambos os negócios no futuro.
Aceitei a condição e durante a faculdade abrimos o primeiro quiosque da marca, foi em janeiro de 2016 e minha rotina se dividiu, ia para faculdade bem cedo, saia de lá e ficava no quiosque até o fechamento.
Foi um grande aprendizado.
Nunca havia aprendido antes a gerir um negócio. Sempre gostei de atender as pessoas e essa era a parte fácil, mas contratar, executar a parte fiscal, sistemas, vendas, caixa, as estratégias, marketing, tudo isso foi ali, aprendendo no dia a dia.
O negócio foi começando a dar certo e o melhor de tudo foi que as pessoas que paravam ali não conheciam a marca ou já tinham visto algo antes, se posicionavam validando nossa história e propósito, diziam que precisávamos expandir a linha, era muito bom ter esse contato com o consumidor final.
E essa foi a virada de chave, na minha opinião. A Orgânica nunca tinha tido contato com o consumidor final, isso é o mais valioso.
Naquele momento nós nem imaginávamos fazer franquia, era quiosque próprio e aquele feedback entregou uma motivação muito grande para todos nós.
Aquela história de que santo de casa não faz milagre, se uma pessoa de fora elogia, outra vem e elogia em seguida isso entrega uma energia muito significativa para dentro.
Começamos então a criar novos produtos, tínhamos apenas sabonetes líquidos, em barra, body, a bucha e a partir daquele momento novos cosméticos vieram desenvolvidos por nós, como a linha hair, perfumes, difusores de ambiente, cremes. O nosso faturamento aumentou, fomos acertando a mão. Demorou um pouco mas acertamos.
A relação da família com o campo e os colaboradores
Tenho muito orgulho dos meus pais, além de serem muito guerreiros sempre foram muito trabalhadores, passaram estes princípios para nós, eles também sempre foram muito humildes.
Trazemos isso conosco. Sempre quiseram crescer, mas queriam que outras pessoas crescessem junto com eles e conosco. Foram entregando muitas oportunidades.
A Orgânica no começo de sua história aumentou a demanda por buchas vegetais mas nós não tínhamos dinheiro para expandir a área da fazenda e aumentar a mão de obra.
Meu pai então teve a ideia de aproximar o pequeno agricultor rural, ensinar a ele como cultivar a bucha vegetal, entregar a ele a nossa semente desenvolvida de bucha e fazer com ele uma parceria com preço pré determinado para evitar prejuízos comprando toda a safra que produzisse.
Se não tivéssemos feito isso a Orgânica nunca estaria do tamanho que ela está, pois até hoje precisamos muito desses nossos parceiros e me lembro bem da primeira vez quando eu ainda era muito novo, um parceiro nosso chegando de Minas Gerais com um caminhão de buchas.
Ele era super humilde, percebemos que estava muito feliz e usando aquele dinheiro da venda para pagar uma faculdade para o filho e melhorar as condições de vida.
Temos história de parceiros nossos que fizeram suas vidas melhores. Nós pensamos muito no tripé da sustentabilidade, a parte ambiental, social e econômica.
Aqui dentro tentamos fazer tudo sempre através deste tripé e um bom exemplo é a bucha. Fazemos essas parcerias com os agricultores no campo, 40% da nossa matéria prima vem desses parceiros e este é um número importante, são parcerias de longa data.
Quando essa bucha chega desses parceiros e da nossa própria plantação aqui para a indústria, ela passa por todo um processo. Um processo de corte, de costura e nesse processo sobram várias rebarbas e essa rebarba não é desperdiçada, temos então um reaproveitamento.
Essa rebarba é utilizada como substituto do plástico bolha nas caixas das entregas de e-commerce e a outra parte volta para as plantações sendo utilizadas no solo pois mantém os nutrientes, o que auxilia ainda mais no cultivo orgânico. O cliente adora esse resíduo e muitos usam íntegro no banho.
Tínhamos um projeto no passado e estamos nos programando para voltar com ele, que é utilizar um pouco dessa rebarba em nossos sabonetes em barra, a linha esfoliante.
A democratização do acesso
Sobre o nosso processo de precificação, é difícil, é complexo mas se não fosse o que é fugiria do nosso propósito. Desde que iniciamos essa pegada de sustentabilidade como DNA da marca, desde 2009 quando lançamos os primeiros cosméticos, sabonete em barra e líquido, já queríamos democratizar. Não dava para fazer apenas para um tipo de público, a ideia é que qualquer pessoa consiga ter em casa pelo menos um sabonete em barra da Orgânica. Hoje conseguimos isso.
Nossas margens são apertadas, tem produtos que encontramos mais dificuldade, mas conseguimos diferenciar pelo tipo de player de venda.
Se for no atacado terá um tipo de mix, se for no varejo grande você terá outro tipo, comprando com nossos franqueados será outro mix, existem mix complementares entre as linhas como por exemplo o sabonete em barra que você vai encontrar em todos os PDVs, mas por exemplo, o nosso franqueado tem um primer para as mãos, tem um perfume, tem um body splash, shampoo em barra, alguns produtos em exclusividade.
Fazemos essa diferenciação com muito cuidado para que os canais sejam complementares e não se canibalizem. Temos produtos até nas farmácias.
Sobre os orgânicos
Quando falamos que um produto é vegano significa que ele não é testado em animais e não traz nenhum ingrediente de origem animal.
Quando falamos em naturais, esses produtos precisam ter uma formulação 80% natural e quando falamos de um produto orgânico falamos daqueles que não tem aditivos químicos, absolutamente nada que possa nos fazer mal e que seja feito e manipulado de forma mais natural possível para o meio ambiente.
Ainda é difícil fazer um produto orgânico e ter competitividade no mercado por uma série de fatores; primeiro nos falta regulamentação, ela entrega segurança tanto para quem produz quanto para quem consome, também falta incentivo e o mais importante, nos falta conhecimento.
Sem conhecimento você não gera valor. O setor orgânico alimentar está muito à frente de todos os outros setores, os produtores estão bem capacitados até porque o Brasil é referência no agro, exportamos tecnologia e temos orgulho disso, mas o nosso setor ainda está no início desse desenvolvimento.
Já tentamos desenvolver cosméticos orgânicos algumas vezes e encontramos problemas em escala, custo, o consumidor final ainda não enxerga esse valor e portanto não paga o preço. Ainda não conseguimos fechar essa conta.
Acredito que chegará o momento em que seremos apenas Orgânicos, pelo próprio histórico da nossa indústria.
O consumidor quer cada vez mais saúde, sustentabilidade e performance. Mas tem que ser acessível. Essa é uma conta difícil.”
“Meus pais foram visionários ao escolherem este nome e propósito para nossa marca. Eles pensaram muito à frente do tempo deles.
Falam que naquela época acreditavam que esse seria o futuro para todos os produtos.”
João Galhardi, diretor de marketing do Grupo Orgânica
Com a palavra, o agrônomo
“Em 89 nós começamos um pequeno plantio com algumas sementes de uma bucha de variedade de metro e fizemos covas com bastante matéria orgânica – em torno de dez quilos de matéria orgânica por cova, fizemos os estaleiros, que tem em torno de dois metros e trinta de altura e na sequência fizemos os primeiros plantios.
Em relação ao espaçamento nós não tínhamos ainda certeza de qual seria o melhor, ele não poderia fechar muito porque se fecha-se muito ela produz pouco, então fizemos algumas experiências para conseguir chegar ao espaçamento ideal ou indicado para a cultura que escolhemos.
Nós fomos aprendendo sobre qual é o ciclo, quais são as pragas, as doenças que apareciam e como organicamente conseguíamos controlar essas doenças.
Todo ano colhíamos aquelas plantas que eram mais resistentes, mais bonitas, que davam buchas maiores, extraíamos aquelas sementes e guardávamos para poder fazer o plantio no próximo ano. Desde 89 até os dias de hoje fazemos uma seleção massal que nada mais é do que escolher entre todos os pés mais bonitos, mais resistentes, mais vistosos para podermos então industrializar.
Além disso, não é só o tamanho e a resistência do pé, nos preocupamos também em selecionar uma fibra mais macia, uma fibra própria para a pele, uma fibra que não machuque os pés durante o banho, que não promova atrito excessivo a ponto de danificar a pele.
Precisamos de uma fibra que, em contato com a pele, faça a função de renovação das células, limpeza e higienização, porém não tão abrasiva. Hoje, com essa fibra, nós temos esse grande diferencial no mercado.
Nossos fornecedores fazem parte de uma agricultura familiar que se mantém no campo sem precisar trabalhar de empregados para os vizinhos ou outras propriedades.
Nossa relação é baseada num valor pré determinado que combinamos já antes do plantio. Entregamos a nossa semente para esses agricultores, toda a orientação técnica e o acompanhamento do plantio e com isso se torna a única cultura que antes dele plantar, antes dele jogar a semente no solo, já sabe a quanto vai conseguir vender o produto final.
Temos contratos com esses fornecedores familiares e gradativamente eles vão se expandindo, vão crescendo, podendo adquirir melhor rendimento, melhorando assim sua qualidade de vida.
No início tivemos muitas dificuldades em ter esse diferencial e colocar um produto um pouco artesanal e totalmente orgânico em competição com produtos industrializados, convencionais e feitos em grande escala.
Tínhamos que mostrar ao nosso consumidor, além de todos os benefícios que a bucha tem em relação aos demais, a importante função de se decompor sozinha e ser renovável, e além disso, tínhamos que ter um preço competitivo para fazer essa mudança de ideia e para alguns poderem experimentá-la no lugar de qualquer outra esponja.
Em 1989 quando falávamos em sustentabilidade e em produto orgânico pouca gente sabia, entendia ou dava qualquer atenção a isso, não existia uma preocupação.
À medida que o tempo foi passando as pessoas foram se conscientizando, procuraram se informar melhor e principalmente hoje, são as pessoas mais jovens que procuram usar um produto orgânico.
Fico feliz por estarem mais conscientes em relação aos produtos orgânicos e sustentáveis, mas ainda existe muita coisa a ser feita principalmente na área de cosméticos.
Não existe no Brasil uma legislação clara para os cosméticos orgânicos por meio do órgão que controla, no caso a Anvisa, e não existe uma legislação para poder realmente dizer o que pode e o que não pode ser feito.
Além de não termos uma regra bem definida pelos órgãos competentes, o público em geral ainda não entrega o reconhecimento e o valor agregado que deve dar ao produto orgânico.
Muitas vezes o preço dos orgânicos é avaliado em comparativo com produtos convencionais feitos em grande escala e o consumidor opta pelo produto mais barato.
Para produzirmos quaisquer produtos orgânicos que sejam muito mais artesanais obviamente, demanda mais cuidado e mais mão de obra, além de muito mais tempo.
Nossas buchas vegetais são lavadas uma a uma, selecionadas e costuradas manualmente uma a uma por nossas costureiras, muito diferente de uma produção convencional em grande escala de esponjas artificiais de poliéster.
Passo a passo da industrialização
O processo de industrialização da bucha vegetal Orgânica
As buchas vegetais são colhidas num ponto certo, são descascadas e deixadas de molho numa caixa d’água, numa água limpa por dois dias e depois colocada para secar ao sol. Depois de bem seca são feitos pacotes com duas dúzias e elas vêm aqui para a empresa tanto da nossa propriedade como dos outros produtores.
Ela chega aqui como matéria prima acima de noventa centímetros, seca, limpa e clarinha, pronta para ser industrializada.
Ela em seguida é aberta feito uma manta e cortada nos modelos que nós temos em linha para confeccionar as luvas vegetais, juntamente com tecido atoalhado, ou outro tecido de algodão, alguns modelos adquirem viés para dar acabamento.
Fibras e luvas bem selecionadas para uma venda que já há um bom tempo é distribuída para o Brasil inteiro.
É muito importante salientar que a bucha vegetal, muitos não sabem, por se tratar de uma planta e de uma fibra vegetal, é o único produto hoje disponível que pode ser usado para tomar banho e no descarte se decompõe no solo, sem prejuízos para o meio ambiente, diferentemente de nylon e de esponjas que ficam por trezentos ou quatrocentos anos no solo gerando muitos problemas.
Por ser uma planta que se planta todo ano ela é renovável. Conseguimos aí as duas pontas da sustentabilidade que são básicas, a renovação e a decomposição do produto após o uso, pensando nas futuras gerações. “
“Conheci o Grupo Orgânica através de pesquisa na internet. Sempre tive vontade de empreender na área de cosméticos e queria na verdade alguma coisa diferente, algo que impactasse na vida das pessoas e também no planeta, algo que eu pudesse fazer e contribuir para uma melhora.
Minha experiência como franqueada tem sido incrível, maravilhosa e claro que nossos principais desafios estamos enfrentando na pandemia e é necessário se reinventar na questão das vendas, em como chegar até os clientes.
A parte boa de todo esse processo está relacionada sem dúvida aos produtos, ao que estamos entregando para o público onde a aceitação é imediata pela qualidade.
Esse retorno assertivo facilita muito para o sucesso da marca e para meu sucesso como franqueada.”
Priscila Paz é empreendedora franqueada Orgânica no Rio de Janeiro.
João continua a entrevista enfatizando que falta ao setor o apoio em políticas públicas.
“Elas são essenciais e fazem todo sentido, elas têm um poder muito forte assim como o do empresário, mas fato é se olharmos para o cenário atual a mudança de toda esse mindset está vindo da parte privada e a pública não está conseguindo se atualizar com a mesma velocidade. Isso é ruim porque a parte pública tem um poder muito grande de inserir a informação para a população e transmitir conhecimento técnico, e quando falo de conhecimento me refiro ao que é transmitido ao pré primário ensinando crianças sobre a forma de descartar o lixo, sobre a compostagem, coisas que deveríamos incentivar.
Se tivéssemos um incentivo por parte do governo para as empresas investirem e difundirem a sustentabilidade para a sociedade seria maravilhoso.
Por exemplo, aqui na Orgânica fazemos trabalho social todos os anos, a parte pública nunca se aproximou e convidou para desenvolvermos um trabalho juntos.
Talvez este seja um cenário para grandes empresas, mas o Brasil não é feito de grandes empresas, é feito de pequenas empresas, do comerciante, do pequeno empreendedor.
Essas pessoas têm um poder de atuação muito grande também. Tudo se entrelaça e faltam políticas públicas para nos unir.
O processo de capacitação também é complicado quando produzimos produtos orgânicos e naturais, pois o colaborador não vem com esse conhecimento.
Nós é que transferimos isso através de treinamentos, explicamos os benefícios na utilização desse tipo de produto, ensinamos sobre os benefícios que o produto entrega para ele próprio, para o próximo e para o planeta. Ali ele começa a entender, entender e entender… o processo é muito bonito.
Nossos colaboradores usam nossos produtos. Se pegamos um sabonete em barra vegetal, este é um produto que você encontra no mercado em torno de sete reais, é um produto super limpo feito a base do óleo que promove uma alta hidratação na pele, não provoca irritação, dura de três a quatro vezes, mais do que um sabonete convencional, e o que quero dizer com isso é que esse produto não é caro, você apenas não tem o conhecimento do quanto ele entrega em benefícios e durabilidade para você e para o planeta.
Quando conseguimos passar esse conhecimento para as pessoas a cabeça muda para sempre.
Shampoo em barra duram mais ou menos 50 lavagens, isso é maior durabilidade do que o shampoo tradicional. É um produto que não tem plástico porque não tem embalagem, é totalmente biodegradável, a base de argila e óleos o que na fabricação gera 70% de redução no uso de água.
A pandemia nos trouxe diversas dificuldades, mas ela também trouxe uma visão muito importante que havíamos perdido como aquela coisa de descascar mais e abrir menos, produtos que você pode usar de forma mais natural, voltando com tudo.
O empreendimento Franquias
Quando a primeira operação de quiosque começou a dar certo, soube que nós conseguiríamos abrir outras operações, direcionando as ações aos diversos públicos da Orgânica. Começamos a expandir e conhecer melhor o nosso consumidor.
Tivemos duas alternativas: ou crescíamos de maneira própria ou através do franchising. Escolhemos o franchising. O maior sonho da Orgânica sempre foi crescer para proporcionar o acesso, para fazer com que a marca ficasse conhecida por todos.
A parceria de franchising se dá através da nossa franqueadora que entrega conhecimento, suporte, desenvolvimento de produto, de marketing e comunicação, atendimento, e o franqueado vai desbravar o seu negócio, levando tudo o que agregamos à marca, expandindo conosco.
Foi a troca perfeita naquele momento. Em 2018 começamos a desenvolver o nosso modelo de franchising, não foi fácil porque as consultorias na época eram muito caras, mas apesar de termos demorado, construímos tudo em casa. Lançamos a franquia em 2019, com modelo de quiosque de shopping.
Em 2020 tivemos um momento de melhora da franquia a partir dos feedbacks dos franqueados.
Tínhamos um planejamento de abrir vinte novas operações. Iniciamos uma operação em março na região do ABC em São Paulo, e de repente veio a notícia da pandemia. Foi difícil para todo mundo naquele momento.
Quando você vende um produto está colocando sua palavra ali, quando vende uma franquia tem uma responsabilidade muito grande com o franqueado, queremos que dê tudo certo.
Tivemos que ser muito rápidos naquele momento e tivemos várias ações. Desenvolvemos álcool em gel, e o nosso já é diferenciado, ao invés da base de Carbopol usamos como base a celulose, ele vem com aloe vera, a nossa
fragrância, hidratante e cicatrizante. Como temos nossas costureiras aqui, fizemos a máscara de tricoline em algodão dupla face. Entregamos aos franqueados que venderam bem no começo da pandemia.
Quando houve o lockdown tudo mudou, o medo entrou muito forte em toda a sociedade.
Como empreendedores não pudemos aguardar o que viria, os shoppings não suspenderam nossos aluguéis, as folhas de pagamento tinham que ser pagas também, nós já não estávamos mais cobrando a taxa de franquia e o royalties, tivemos a ideia então de transformar o carrinho que compunha o quiosque em ponto de venda itinerante. Entregamos a opção para que o franqueado fizesse venda através do nosso e-commerce que aumentou mil por cento o faturamento total durante a pandemia.
Impulsionamos nas redes sociais as regiões dos franqueados, mas não podíamos prever o tempo de lockdown. Foi necessário, então, criar um novo modelo de franquia. Ali, em novembro de 2020, nasceu a Franquia Express. Ela é um carrinho dobrável, leve e flexível.
Nesse modelo de franquia possibilitamos que o franqueado venda onde quiser, pois pode levar esse carrinho para vários pontos respeitando o território de atuação de cada franqueado.
Temos uma história linda desse processo que aconteceu com uma franqueada chamada Margarete, ela estava muito preocupada com o fechamento dos shoppings. Foi nossa primeira franqueada Express, propomos a ela vender pelo site com catálogo próprio, redes sociais, com suporte e treinamento de marketing.
Ela então passou um mês e meio sem se comunicar e de repente nos mandou uma mensagem pedindo um contato urgente. A notícia era de que ela tinha vendido tudo e precisava de mais produtos.
Para nós essa história tem muito valor, porque no meio da pandemia conseguir gerar empreendedorismo e oportunidade aqueceu os nossos corações.
Projeto de futuro
O que mais me motiva, João, é impactar o maior número de pessoas possível. Desde a plantação, produção, até o consumidor final e para isso preciso de mais franqueados, de mais vendas.
Temos um plano de futuro para cinco e dez anos. Hoje, temos 25 franquias Express, 3 franquias de quiosque, uma franquia digital, e falando em números pensamos em torno de no mínimo, 500 franqueados Express, 100 quiosques, mais de mil franquias digitais e algumas lojas conceito grandes com spas de serviços com o objetivo de promover a experiência do consumidor com a Orgânica, com realidade virtual. Imagine -se fazendo uma massagem no meio de um campo de lavanda com uma sala ambientalizada.
É isso. E imagine se todos os franqueados pudessem fazer parte de tudo isso.
O perfil do franqueado Orgânica é o de quem quer fazer parte de uma mudança.
Quanto ao consumidor, ele mudou completamente, o próprio consumidor da nossa marca mudou durante a pandemia.
Tínhamos um público de 20 a 50 anos, 89% feminino, que durante a pandemia ficou bem mais abrangente. As pessoas de um modo geral tiveram mais tempo em casa e buscaram mais informações sobre esse tipo de produto natural e orgânico.
A tecnologia veio para democratizar a maneira de consumir. Quando entrei na Orgânica, deixei claro que somos uma indústria, com custos de indústria, mas não por causa disso precisávamos ter mentalidade de indústria.
Minha proposta foi para seguirmos com mentalidade de startup. Se olharmos para a figura do CEO, ela mudou completamente.
O CEO passado era alguém que precisava entender muito da fábrica, de processos em alta escala, hoje este CEO é desafiado a ser muito humano, precisa entender de pessoas e focar na qualidade do ambiente. É um novo mindset.
E ainda existe um novo mindset de desenvolvimento e criação com uma nova escalabilidade.
Uma startup tem como característica um baixo custo, poucas pessoas, com uma oportunidade de escalar o seu negócio mais rápido.
A Orgânica começou pelo sonho de dois agrônomos numa casinha super pequena no interior de São Paulo, numa pequena plantação de bucha vegetal e hoje temos a maior plantação da América Latina. Também somos os maiores fornecedores de buchas vegetal do Brasil, mas só conseguimos esse feito através de vários parceiros, pequenos agricultores. Para quem começou só de um sonho e uma sementinha de bucha vegetal, estamos indo muito bem e queremos chegar muito longe.
O projeto do nosso novo refil está previsto para o primeiro trimestre deste ano, já está aprovado e finalizado. Esse refil já chega com a ideia de ser muito sustentável, diferente do que existe hoje em dia no mercado.
Desenvolvemos uma embalagem a partir da cana, num tipo de plástico reciclado e circular, com selo I`m Green, além de toda a performance que o produto irá entregar, ele é mais econômico, acessível e sustentável”, conclui ele.
Saiba mais em:
marketing@grupoorganica.com.br
Bucha vegetal orgânica para as crianças e sabonete em barra