A hora de parar para repensar

Por Cobi Cruz

 

Nada melhor para pensar orgânico do que fazer uma boa viagem a Paris, não é mesmo?

E o bom mesmo é que nem é preciso ir até lá, dá para fazer o roteiro apenas com a força do pensamento.

Aí você me perguntaria o que tem a Cidade Luz, que há umas boas centenas de anos é um dos símbolos da vida urbana ocidental com o mundo orgânico. Explico melhor. A capital francesa, há cerca de cinco anos, criou o projeto Parisculteurs, ou em português, a Pariscultura, que nada mais é do que o cultivo de frutas, verduras, legumes e até mesmo peixes na cidade.

De lá para cá já são 205 lavouras instaladas em uma das cidades com espaços mais caros do mundo, entre elas a maior fazenda urbana da Europa, com 14 mil m² e que integra ainda bar, café e um restaurante com pratos criados a partir do que é produzido no local.

Como esse verdadeiro oásis verde está no terraço de um imenso centro de exposições, os agricultores e os clientes levam, de brinde, uma maravilhosa vista panorâmica da cidade. E esse exemplo se estende por Londres, Sant Louis, Cingapura, Sheffield, Rotterdam e Nova Iorque que, sob a orientação da GreenThumb, um órgão municipal, já produz 40 toneladas de alimentos em suas prósperas 553 hortas comunitárias.

Acho que viajei um pouco no assunto. Para você entender de vez aonde quero chegar, saiba que um dos compromissos básicos desta audaciosa atitude de vanguarda é que sejam usados métodos absolutamente orgânicos de produção.

Isso mesmo: o orgânico cada vez mais se consolida como uma opção não apenas correta do ponto de vista nutricional e da sustentabilidade, mas também é, cada vez mais, vista como moderna, avançada, chique, in e outros adjetivos que, no fim das contas apontam para um processo de ascensão global.

Então, nós, do movimento orgânico, podemos espalhar por aí que algumas das cidades com as legislações ambientais mais rigorosas do planeta reconhecem nossa metodologia como capaz de, além de não envenenar, colaborar, e muito, para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes.

Voltando a colocar os pés no chão do Brasil, com tantas mentes a conquistar e caminhos a percorrer, vemos que a nossa missão, além de plantar, é difundir o pensar orgânico. É aí que tudo começa, em um processo educativo que não acaba quando o consumidor adquire um produto orgânico certificado.

Pensar orgânico é elevar o relacionamento com as pessoas para além da simples definição ou entendimento legal, agindo consciente, coerente, da semente ao prato do cliente.

Pois o orgânico, além do conceito estabelecido em lei, é um estilo de vida, uma cosmovisão de consumo não predatório, um sistema de produção socialmente justo, uma marca coletiva, uma forma de pensar o mundo e repensar a vida.

As ferramentas de comunicação podem fazer mais pessoas chegarem ao momento do consumo decididas a valorizar aqueles que praticam em seu dia a dia conceitos como reutilizar, reduzir, recriar, repassar, reparar, regenerar, reaprender.

Para isso, o pensar orgânico, entre tantas atitudes, traz junto a necessidade de fazer o consumidor repensar, mesmo que, de vez em quando, seja necessário convidá-lo para uma visita às imperdíveis hortas de Paris.

 

Cobi Cruz, é diretor da Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos

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